quinta-feira, 7 de junho de 2012

Fiat Voluntas Tua II - one year after



Hoje está fazendo um ano da morte de me pai, um ano que ele fez a sua passagem e que eu vivi o meu dia mais negro.
Mas como tudo na vida, a dor da perda passa, e fica só a saudade, doída. O processo do luto é longo e doloroso, é muito difícil dizer quando termina... 
Sinto saudades todas as semanas, mas agora é tudo mais calmo e a memória dos bons momentos se sobrepõe à tristeza, pois aprendi a acreditar que tudo acontece na hora certa, que tudo é perfeito, seguindo uma ordem qualquer do universo que eu não sei bem qual é, e nem me cabe entender.
Pensar no rio do Heráclito e no fluxo constante dos acontecimentos me consola, e como bom apreciador de filosofa que meu pai era, tenho certeza que é ele que me inspira nesses momentos.
Fica então a homenagem, como ele gostava, com poesia, música e alegria, dando sempre gracias a la vida por ter me dado tanto, um pai maravilhoso, que me deu essa existência plena e linda... Honrando sempre a memória, seu legado e a certeza das minhas raízes, de tudo que foi plantado e deu belos frutos, todos os ensinamentos e todo o amor...
Pai, obrigada por tudo!




Raízes

Quem um dia teve a graça
De lá nas Missões ouvir
No violão o Pedro Ortaça
retoçando um vanerão,
e o gran Gilberto Monteiro
clarineando a gaita-ponto
em despontes de milonga
fúrias xucras de ginetes
cavalos estraçalhados
na explosão dos entreveros
que caldearam as Missões,
por dentro há de sentir
que o passado
vivo vibra
qual porvir enraizado
'no subsolo da gente'
como entoava o payador
Don Jayme Caetano Braun

Wilmar Taborda, "Sob as Missões e Outros Céus", 2008.






Gracias a la Vida que me ha dado tanto
me dio dos luceros que cuando los abro
perfecto distingo lo negro del blanco
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo.

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
me ha dado el oido que en todo su ancho
graba noche y dia grillos y canarios
martillos, turbinas, ladridos, chubascos
y la voz tan tierna de mi bien amado.

Gracias a la Vida que me ha dado tanto
me ha dado el sonido y el abedecedario
con él las palabras que pienso y declaro
madre amigo hermano y luz alumbrando,
la ruta del alma del que estoy amando.

Gracias a la Vida que me ha dado tanto
me ha dado la marcha de mis pies cansados
con ellos anduve ciudades y charcos,
playas y desiertos montañas y llanos
y la casa tuya, tu calle y tu patio.

Gracias a la Vida que me ha dado tanto
me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano,
cuando miro el bueno tan lejos del malo,
cuando miro el fondo de tus ojos claros.

Gracias a la Vida que me ha dado tanto
me ha dado la risa y me ha dado el llanto,
así yo distingo dicha de quebranto
los dos materiales que forman mi canto
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos que es mi propio canto.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

"Catedrático, bora discutir Foucault!" - Refletindo sobre o Saber e o Poder



Michel Foucault
Desde o primeiro semestre do nosso curso de Psicologia na UFF ouvimos os professores mencionarem Foucault, em várias disciplinas, e a respeito de diversos assuntos. Eu só conhecia o Foucault da epistemologia, da discussão sobre o discurso e da história das ciências humanas, ao qual fui apresentada através da obra "As Palavras e as Coisas", lá no meu longínquo curso de Letras.

Dá pra dizer que fui apresentada formalmente às obras de Foucault somente agora, na Psicologia.  A princípio achei difícil de ler, de acompanhar o raciocínio frenético desse autor, e seus períodos longuíssimos... E percebi que suas obras, suas idéias, provocam reações extremadas de amor ou ódio nas pessoas, pois há os que "odeiam" o Careca e os que se assumem "foucaultianos de carterinha". Sem pender para um lado ou outro, acho importante conhecer a obra e os pontos de vista desse que foi um grande intelectual do nosso século, pois suas colocações acerca de uma multitude de assuntos podem até ser um pouco maçantes, e podemos discordar de suas conclusões, mas jamais ficar indiferentes a tudo que diz, ele nos instiga a pensar e investigar coisas que tomamos como dadas desde sempre.

Michel Foucault foi um dos mais importantes pensadores da contemporaneidade, que durante sua curta vida estudou e discutiu uma ampla variedade de temas. Trabalhou em campos tão diversos que é difícil categorizar sua obra, que pode tratar tanto de Filosofia, como Psicologia, Sociologia. Medicina, estudos de Gênero, Crítica Cultural e Literária e Epistemologia. O que dá unidade a este extenso e variado campo de estudo é seu interesse no Poder e no Saber, e fundamentalmente nas interações destes dois campos. Poderíamos dizer que ele começa com uma afirmação óbvia: Saber é Poder. A partir deste pressuposto, interessou-se pelo saber dos seres humanos, e no poder que atua sobre os seres humanos.

Ao longo de sua obra Foucault olhou para o mecanismo central das ciências sociais, a categorização das pessoas em normais e anormais. Seus livros estudam diferentes formas de anormalidade, tais como entendidas pela nossa sociedade ocidental, em suas várias faces:  a Loucura (História da Loucura na Idade Clássica - 1961), a criminalidade (Vigiar e Punir - 1975), as enfermidades (O Nascimento da Clínica - 1963) e a sexualidade humana (História da Sexualidade - 1976 a 1984), entre outras obras importantes, e tentam mostrar como um certo saber sobre a "normalidade" foi construído visando o poder, a "normatização" e a disciplina.

Não tem como fazer um resumo da vasta obra desse pensador, filósofo e psicólogo em um post apenas. Resolvemos postar então alguns fragmentos da última leitura que fizemos, agora durante a greve, onde lemos algumas partes de Vigiar e Punir, onde Foucault dedica-se à árdua tarefa de investigar a história das prisões e cárceres,  para entender melhor certas formas de disciplina e certos padrões de relacionamento inaugurados por estas disciplinas ao longo do período clássico, e que existem até nossos dias, como o panoptismo, fenômeno que pode ser observado extensivamente em nossa sociedade. Vamos então à leitura do capítulo onde Foucault nos fala da "docilização dos corpos", dessa espécie de "doma" que somos sujeitos desde nossos primeiros anos de escola e em diferentes contextos de nossas vidas, que tem por objetivo "normatizar", subjugar nossos corpos à disciplina que parecer mais adequada aos interesses da sociedade.


Vigiar e Punir, Capítulo III - Os corpos dóceis, pag.131

"Houve, durante a época clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder. Encontraríamos facilmente sinais dessa grande atenção dedicada então ao corpo - ao corpo que se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se torna hábil ou cujas forças se multilplicam.
(...) Nesses esquemas de docilidade, em que o século XVIII teve tanto interesse, o que há de tão novo? Não é a primeira vez, certamente, que o corpo está preso no interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. Muitas coisas entretanto são novas nessas técnicas. A escala , em primeiro lugar, do controle: não se trata de cuidar do corpo, em massa, grosso modo, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalhá-lo detalhadamente ; de exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao nível mesmo da mecânica - movimentos, gestos, atitude, rapidez: poder infinitesimal sobre o corpo ativo. O objeto, em seguida, do controle: não, ou não mais, os elementos significativos do comportamento ou a linguagem do corpo, mas a economia, a eficácia dos movimentos, sua organização interna; a coação se faz mais sobre as forças do que sobre os sinais; a única cerimônia que realmente importa é a do exercício.
(...) Esses métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos chamar as "disciplinas". Muitos processos disciplinares existiam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos, nas oficinas também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer dos séculos XVII e XVIII fórmulas gerais de dominação.

 (...) O momento histórico das disciplinas e o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mai útil, e inversamente. Forma-se então uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos.
(...) uma "mecânica do poder" está nascendo: ela define como pode se ter domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas, segundo a rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos "dóceis". A disciplina aumenta as forcas do corpo ( em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra:ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma "aptidão", uma "capacidade" que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita."

Esses fragmentos são apenas as partes que me chamaram a atenção e sobre as quais fiquei pensando, a obra é muito mais e merece uma leitura atenciosa! Espero que tenha ajudado alguém a "desconstruir" a imagem de Foucault como um cara chato, difícil e "coisa de intelectualóide", como já ouvi muito por aí... Eu não me meto a discutir suas idéias, pois acho que ainda não tenho conhecimento suficiente para isso, mas aprecio a leitura e acho que me fazem pensar e questionar a realidade, e isso é ótimo, na minha opinião!

Referências Bibliográficas:
Foucault, Michel. Vigiar e Punir (Surveiller et punir). 1975. Editora Vozes, Rio de Janeiro, 1997.
Foucault  para principiantes, ebook, 2010.
Funk da "Gaiola das Cabeçudas", Marcelo Adnet e cia. no Comédia MTV, melô da turma no nosso primeiro período, pra quem diz que funk não é cultura! 


domingo, 27 de maio de 2012

Gestalt - A Psicologia da Forma

 
Já falamos em Gestalt em posts anteriores, mas estávamos nos referindo à Gestal Terapia, uma aplicação clínica de um método investigativo do sujeito, de cunho fenomenológico-existencialista, que vê a pessoa como um todo indivisível. A Gestalt do título aí de cima é, na verdade, a base filosófica da terapia, e é importante estabelecer esta diferença.

Na verdade, para o entendimento do que é Gestalt Terapia e Gestaltismo, é fundamental, necessário esclarecer que a Psicologia da Getalt apresenta-se como uma ruptura à Psicologia Experimental e com a Psicanálise, conforme entendidas no século XIX e início do século XX.

Márcia Moraes, em seu artigo "Considerações sobre o gestaltismo: entre ciência e filosofia", nos diz que 

"ao afirmar a perspectiva do sujeito ingênuo como seu ponto de partida, o Gestaltismo traça um corte com relação à orientação clássica em psicologia. Em vez de partir de um universo físico preconcebido, a Psicologia da Gestalt parte das vivências do leigo."

Então, a Psicologia da Gestalt ou Gestaltismo, por oposição à orientação clássica em psicologia, caracteriza-se por promover um integração entre ciência e experiência.

Koffka
O gestaltismo é originário de um movimento de origem alemã, mas que acabou por se desenvolver também na América do norte. A palavra GESTALT é de origem alemã, e não se consegue uma tradução exata para o português, mas o significado mais próximo é de forma, estrutura, todo. Os principais teóricos são da Gestalt são Max Wertheimer (1880-1943), Kurt Kofka 91886-1941) Wolfgang Khöller 91887-1964) e Kurt Lewin (1890-1947).

Seu nascimento foi, na verdade, uma tentativa de oposição a outras correntes psicológicas da época, particularmente ao estruturalismo e ao behaviorismo, por julgarem os gestaltistas que estas duas correntes subestimavam o indivíduo como ser preponderante e atuante, e o colocavam num papel de “registrador” de estímulos do ambiente.

Os gestaltistas também não concordavam com a decomposição do todo em elementos simples que os estruturalistas propunham aos fenômenos mentais, nem com as simples unidades de estímulo-resposta (S-R) propostas pelos behavioristas. Entendiam que tanto uma coisa quanto a outra destituía o sentido do fenômeno estudado.

Para a psicologia da Gestalt o todo é sempre maior que a soma de suas partes, e a tentativa de estudar o todo pelas partes sempre acabará num resultado frustrado que não representaria a verdade. Seria o equivalente a uma melodia, que no todo tem um significado próprio, mas que se decomposta em pequenos grupos de notas ou instrumentos, perderia a estrutura final por onde a música poderia ser identificada.

 A percepção humana foi o tópico de longe mais estudado pelos gestaltistas, sempre de forma rigorosamente experimental. Inaugura-se o mundo percebido como um espaço legítimo de conhecimento.

A novidade espistemológica do gestaltismo reside nesta nova relação entre ciência e vida - e note-se que vida, neste caso, tem o mesmo sentido que vivência: "Esta combinação do laboratório da vida é, obviamente, um dos objetivos característicos da Teoria da Gestalt" (Gibson, 1971, p.2)

Este compromisso gestaltista é explicitado por Koffka (1975) ao afirmar que
 "Cabe à psicologia apontar o caminho em que a ciência e a vida hão de se encontrar."
O próprio sentido da palavra Gestalt, intraduzível para o nosso idioma, expressa o caráter interno, direto, da organização do real e do percebido. Temos que gestalt pode ser entendido como forma, feitio, atibuto de coisas, mas também como uma unidade concreta per se. Então, para a Psicologia da Forma, as representações são, de saída, organizadas e significativas e se apresentam na perspectiva do leigo apenas deste modo.

As pesquisas sobre a percepção, principalmente a visão, levaram a uma doutrina filosófica. Esta doutrina traz em si a concepção de que não se pode conhecer o todo através das partes, e sim as partes por meio do conjunto. Este tem suas próprias leis, que coordenam seus elementos. Só assim o cérebro percebe, interpreta e incorpora uma imagem ou uma idéia. Segundo o psicólogo austríaco Christian von Ehrenfels, que em 1890 lançou as sementes das futuras pesquisas sobre a Psicologia da Gestalt, há duas características da forma – as sensíveis, inerentes ao objeto, e a formais, que incluem as nossas impressões sobre a matéria, que se impregna de nossos ideais e de nossas visões de mundo. A união destas sensações gera a percepção. É muito importante nesta teoria a idéia de que o conjunto é mais que a soma dos seus elementos; assim deve-se imaginar que um terceiro fator é gerado

Leis da Gestalt
Leis da Gestalt

A Gestalt propõe uma série de leis que organizam a percepção, conhecidas como Leis da Boa Forma. Podem ser resumidas da seguinte forma:

  
- Semelhança: Objetos semelhantes tendem a permanecer juntos, seja nas cores, nas texturas ou nas impressões de massa destes elementos. Esta característica pode ser usada como fator de harmonia ou de desarmonia visual.







- Proximidade: Partes mais próximas umas das outras,em um certo local, inclinam-se a ser vistas como um grupo.



- Continuidade: Alinhamento harmônico das formas.





- Pregnância: Este é o postulado da simplicidade natural da percepção, para melhor assimilação da imagem. É praticamente a lei mais importante.




- Fechamento: A boa forma encerra-se sobre si mesma, compondo uma figura que tem limites bem marcados.





 Tais leis e princípios da Gestalt são importantes para a Psicologia porque fundaram, a partir da percepção visual, uma nova relação entre o mundo percebido e a nossa subjetividade. As relações parte/todo e de figura/fundo estabelecidas pelas Leis da Boa Forma expressam uma heterogeneidade mínima, sem a qual não há cognição possível, e explicam a organização interna da figura, vista como uma parte articulada em um todo, que é diferente desta mesma parte isolada ou em outra totalidade. Aplicando-se este raciocínio em nossa relação subjetiva com o mundo, podemos compreender o ser humano como uma totalidade. A Gestalt vê o homem no físico, mental e psíquico. Estas são esferas indivisíveis e interrelacionadas. Corpo e psiquismo são inseparáveis. Afinal, o todo é sempre mais do que a soma de suas partes.


Bibliografia:

Ferreira, Arthur Arruda Leal (org.), A pluralidade do campo psicológico:principais abordagens e objetos de estudo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2010

História da Psicologia: rumos e percursos / org. Ana Maria Jacó Vilela, Arthur Arruda Leal Ferreira, Francisco Teixeira Portugal. Rio de Janeiro: Nau Ed. 2007

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Greve nas Universidades Federais


Pois é, mais uma vez a Universidade Federal Fluminense, e mais outras 44 instituições de ensino no país deflagaram greve por melhores condições de trabalho. A precarização do ensino público no Brasil chegou ao limite, e não é só na universidade. As promessas de campanha da nossa presidenta de fazer mais pela educação ficaram só nas promessas. A propaganda institucional do PROUNI é uma mentira deslavada. Pelo menos, não condiz em nada com a realidade do nosso Pólo de Rio das Ostras.

Transcrevo abaixo uma carta à População, veiculada nas mídias sociais pelo ANDES- Sindicato Nacional das Instituições de Ensino Superior:

À SOCIEDADE BRASILEIRA
Por que os(as) professores(as) das instituições federais estão em greve?
A defesa do ensino público, gratuito e de qualidade é parte essencial da história do Sindicato Nacional das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), assim como a exigência da população brasileira, que clama por serviços públicos, com qualidade, que atendam às suas necessidades de saúde, educação, segurança, transporte, entre outros direitos sociais básicos.

Os(as) professores(as) federais estão em greve em defesa da Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade e de uma carreira digna, que reconheça o importante papel que os docentes têm na vida da população brasileira.

O governo vem usando seguidamente o discurso da crise financeira internacional como justificativa para cortes de verbas nas áreas sociais e para rejeitar todas as demandas feitas pelos servidores públicos federais por melhores condições de trabalho, remuneração e, consequentemente, qualidade no serviço público. A situação provocada pela priorização de investimentos do Estado no setor
empresarial e financeiro causa impacto no serviço público, afetando diretamente a população que dele se beneficia.

Os professores federais estão em greve em defesa da Universidade Pública,Gratuita e de Qualidade e de uma carreira digna, que reconheça o importante papel que os docentes federais tem na vida da população brasileira.

Pela reestruturação da carreira.

Há anos os(as) professores(as) vêm lutando pela reestruturação do Plano de Carreira da categoria, por acreditarem que essa reivindicação valoriza a atividade docente e, dessa forma, motiva a entrada e permanência dos profissionais nas instituições federais de ensino. No ano passado, o ANDES-SN assinou um acordo emergencial com o governo, que previa, como um dos principais pontos, a reestruturação da carreira até 31 de março de 2012. Já estamos na segunda quinzena de maio e nada aconteceu em relação a essa reestruturação. Para reestruturação da carreira atual, desatualizada e desvirtuada conceitualmente pelos sucessivos governos, o ANDES-SN propõe uma carreira com 13 níveis, variação remuneratória de 5% entre níveis, a partir do piso para regime de trabalho de 20 horas, correspondente ao salário mínimo do DIEESE (atualmente calculado em R$2.329,35) A valorização dos diferentes regimes de trabalho e da titulação devem ser parte integrante de salários e não dispersos em forma de gratificações.

Pela melhoria das condições de trabalho nas Instituições Federais:

O começo do ano de 2012 evidenciou a precariedade de várias instituições. Diversos cursos em Instituições Federais de Ensino – IFE tiveram seu início suspenso ou atrasado devido à precariedade das Instituições. O quadro é muito diferente do que o governo noticia. Existem instituições sem professores, sem laboratórios, sem salas de aula, sem refeitórios ou restaurantes universitários, até sem bebedouros e papel higiênico, afetando diretamente a qualidade do ensino.(essa é exatamente a nossa situação, na UFF - Pólo Universitário de Rio das Ostras!) Ninguém deveria ser submetido a trabalhar, a ensinar ou a aprender num ambiente assim. Sofrem professores, estudantes e técnicos administrativos das Instituições Federais de Ensino. E num olhar mais amplo, sofre todo o povo brasileiro, que utilizará dos serviços de profissionais formados em situações precárias e que, se ainda não têm, pode vir a ter seus filhos estudando nessas condições.

Por isso convidamos todos a se juntarem à nossa luta. Essa batalha não é só dos(as) professores(as), mas de todos aqueles que desejam um país digno e uma educação pública, gratuita e de qualidade.
 
Para saber mais sobre a greve e as negociações com o governo acesse : www.andes.org.br
A Educação pública, gratuita e de qualidade é um direito de todos.



Para os colegas, lembro que agora é hora de mobilizar nossas forças, pois greve não é férias e nem feita pra prejudicar os alunos, e sim para lutar por melhores condições de ensino para todos nós, então precisamos apoiar nossos professores! Estarmos ativos, participarmos das discussões e construir a universidade que queremos JUNTOS!!!

Kierkgaard Again

Introspecção e Isolamento (O Silêncio dos Amigos)

"O silêncio deles é nitidamente proveitoso para mim, porque me obriga a ficar a vista do meu eu: porque me estimula a aprender esse eu, que é meu; porque me obriga a manter-me fixo na infinita instabilidade da vida e a voltar para mim o espelho côncavo com que dantes procurava abarcar a vida fora de mim mesmo. Esse silêncio agrada-me porque me sinto capaz desse esforço e com coragem para segurar o espelho, mostre-me ele o que mostrar, o meu ideal ou a minha caricatura."

terça-feira, 22 de maio de 2012

Inspirada pela Gestalt

Salvador Dali, Gaia - As partes formando um todo

Continuo minha caminhada de descoberta pelo universo da Gestalt (a Psicologia da Forma) e da Gestalt Terapia criada por Fritz Pearls, coisas diferentes que se complementam lindamente. Fascinada pela obra de Pearls e pela visão de mundo proposta por esta corrente da Psicologia. Talvez tenha encontrado meu pedacinho de chão no "solo fragmentado da Psicologia", mas ainda é cedo pra dizer isso, muito estudo e leituras ainda me aguardam! Assim que estiver preparada, escrevo mais sobre a diferença dos dois campos que citei acima. Por hoje, fica a Oração da Gestalt, que achei no livro maravilhoso de Pearls, "Gestalt Theory Verbatim", (disponível para visualização e impressão no Google Books):


"Eu sou eu, você é você
Eu faço as minhas coisas e você faz as suas coisas
Eu sou eu, você é você
Não estou neste mundo para viver de acordo com as suas expectativas
E nem você o está para viver de acordo com as minhas
Eu sou eu, você é você
Se por acaso nos encontramos, é lindo.
Se não, não há o que fazer."
 
Fritz Pearls, 1969

Para ler mais sobre o significado da Oração da Gestalt e outras coisas interessantes sobre Gestalt Terapia, clique aqui.

                                            "Be as You Are", Fritz Pearls

domingo, 20 de maio de 2012

Resenha sobre o livro “A Arte de Restaurar Histórias”



No curso da disciplina Teorias e Tècnicas Psicoterápicas, ministrada pela Profa. Patrícia Lima, a querida Ticha,  nós tivemos uma introdução aos princípios de algumas técnicas utilizadas na prática clínica, e dentre estas, a Gestalterapia. Nos foi proposta a leitura do livro de Jean Juliano, “A Arte de Restaurar Histórias”, uma reflexão sobre a experência da autora em anos de prática psicoterápica utlizando as técnicas da Gestalterapia, com o intuito de tentar responder a pergunta: O que é ser terapeuta?

Já no título da obra podemos perceber que, segundo a autora, o papel do terapeuta é restaurar histórias individuais esfaceladas e/ou incompletas, desordenadas, utilizando técnicas que priorizam o diálogo e a interação cliente/terapeuta – o contato, um dos conceitos apresentados pela Gestalterapia – no espaço criado na terapia.
  
Interessante observar que a autora faz uma analogia do trabalho de psicoterapia com elementos da vida diária normalmente muito significativos, como cozinhar ou costurar uma colcha de retalhos, aproximando assim a atividade terapêutica da vida quotidiana, e não algo “estranho” ou excepcional da vida do sujeito, ou uma atividade que não deva ser discutida. Esta analogia faz muito sentido, pois somente através da própria experiência do fazer, do estar presente por inteiro em tais atividades é que se consegue “terminar” o trabalho e formar uma coisa nova, uma nova imagem, uma nova forma, com as “partes” iniciais, a princípio desconexas e sem sentido.
  
Entendemos que, de acordo com a autora, o ofício do psicoterapeuta é “resignificar”, dar novo sentido para a história pessoal dos indivíduos. Para Jean, a tarefa do terapeuta é olhar para os “retalhos de histórias” que são trazidos para o espeço da terapia e recompô-los, reorganizá-los, “ensaiar novas percepções e dar outras perspectivas” às questões levantadas pelo cliente.

Para a autora o psicoterapeuta é um “guardador de histórias” que são postas em sua guarda nos momentos em que o cliente não tem espaço “ou possibilidade de permanecer com elas em um determinado momento”, até que o cliente esteja pronto para levá-las consigo novamente e então transformá-las em algo diferente, novo e que faça sentido na sua vida.

Ao discutir o processo terapêutico, a autora afirma que “o processo de crescimento e expansão da consciência é, em parte, autônomo”,ou seja, só se concretiza a partir de um esforço do próprio indivíduo, e só por ele pode ser levado a cabo. Mas é muito importante saber que o espaço terapêutico existe e está ali para auxiliar-nos, guiar-nos rumo a esse crescimento, através da possibilidade de fala do cliente e da escuta atenta do terapeuta. Jean vem nos dizer que “cabe ao psicoterapeuta e ao cliente aprender a dar pasagem, a compreender e cooperar com esse processo.” Este ponto é muito importante para o entendimento do que é ser terapeuta, pois esta acolhida de olhos e ouvidos atentos ao mundo apresentado pelo cliente na terapia é o real “retornar as coisas mesmas” e estar inteiro no momento presente que nos fala a base fenomenológica da gestalterapia, o próprio conceito de contato e de “estar no mundo”. Ao adotar uma postura atenta, curiosa, aberta à  “novidade do mundo”, o terapeuta se coloca como um acompanhante ou guia de uma jornada pessoal do cliente,muitas vezes dolorosa e sofrida, a qual seria muito árida se atravessada sozinho.

Vemos então que, como bem coloca a autora, que o trabalho em Gestalt representa uma postura diante da vida, pois essa interação que acontece no espaço terapêutico não é exclusividade do mesmo, e nem poderia ser, pois o gestalterapeuta tende a levar sua maneira de entender o mundo, de se colocar em contato com “a pessoa do outro na sua singularidade, sem pré-concepção de qualquer ordem” A terapia pode então ser entendida como um processo contínuo onde homem e mundo se transformam.

 
A técnica do trabalho em Gestalterapia: 

A autora apresenta alguns pressupostos básicos para a eficiência do trabalho com a Gestalterapia, uma linha de terapia clínica de cunho fenomenológico-existencialista, que utiliza conceitos da Gestalt, como a Lei da Boa Forma, para entender a percepção.  Segundo essa lei, a nossa percepção tenta organizar “as figuras”, ou partes de uma figura da melhor forma possível. A Gestalterapia “toma emprestado” esse conceito e vai dizer que não somente nossa percepção acontece assim, mas também as experiências da nossa consciência e nossos fatos psíquicos, ou seja, tentamos organizar a nossa experiência de “estar no mundo”  da melhor forma possível.
 
Portanto, a Gestaterapia enfatiza a percepção sensorial e o fluxo e direção da energia corporal, onde o terapeuta procura focar sua atenção para o momento da troca com o cliente, analisando sua postura, seu ritmo respiratório, a situação psicológica do momento vivido, assim como também suas vivências anteriores. Deve ter sua atenção centrada no conteúdo relatado, mas também em como o cliente se narra (foco duplo), pois “o foco do trabalho reside na estrutura da experiência, no como da interação em processo”.

É importante também observar que o objetivo do trabalho em Gestalt é restaurar a qualidade do contato do indivíduo com o mundo, daí a importância da criação de um contexto adequado para a terapia. O terapeuta deve criar condições para que o cliente experimente novas maneiras de perceber o mundo, e que possa ensaiar novas formas de diálogo. Isso pode ser alcançado através da utilização de alguns “experimentos”, que são atividades propostas na terapia com objetivo de aumentar a “awareness” do cliente perante as situações trazidas ao foco do processo terapêutico.

Para que tais “experimentos” e resignificação das experiências sejam possíveis, é fundamental o suporte pessoal do terapeuta, que deverá estar aberto ao trabalho da terapia tanto quanto o cliente, e colocando sua energia disponível para este processo. Isso implica em uma presença de qualidade da parte do terapeuta, uma “atitude descontraída e atenta”, para que possibilite a “observação do fenômeno tal e qual ele se apresenta, e é, mais do que aquilo que foi ou que poderia ser.”

A autora nos diz que “a escuta interessada do terapeuta é curativa por si só”, e com isso podemos sintetizar a importância do trabalho do gestalterapeuta, que se apresenta como ouvinte interessado e atento, um facilitador para as que as transformações em curso no trabalho psicoterápico se dêm da forma mais significativa e eficiente possível. Pensamos que ser terapeuta, como nos diz Jean, é ser um mestre na arte de restaurar/resignificar histórias, sempre lembrando que ao estarmos ali, em contato com uma pessoa humana, somos só outra pessoa humana, e a qualidade desse contato é a matéria mesma de que a vida é feita.


Sites interessantes sobre Gestalt e Gestalterapia:

Link para o livro de Franz Perls, "Gestalt-terapia Explicada", no Google Books
Instituto de Gestalterapia, Rio de Janeiro, RJ
Psicologia e Saúde, O que é Gestalterapia
Gestalt em Movimento, Maringá, PR