domingo, 24 de julho de 2011

Crônica de uma morte anunciada


Amy foi encontrada morta ontem, em Londres, ao 27 anos.
Então todo mundo resolveu citar Garcia Marquez pra falar da morte de Amy Winehouse. E é incrível a força desta ideia, pois foi a primeira coisa que me passou pela cabeça quando ouvi a notícia ontem. Sim, todos sabiam que ela ia acabar se matando. Ela mesma dizia-cantava "I'm no Good"! Mas mesmo assim, é muito triste ver uma pessoa tão jovem e talentosa, com uma das melhores vozes que já ouvi, se destruir com drogas e álcool. Era considerada uma diva moderna do pop/soul/jazz, uma inglesa branquela com voz de dama do jazz e letras surpreendentemente wise e universais para a sua tão pouca idade...

Mas não cabe a nós fazermos qualquer julgamento de valor, eu acho. Não importa como ela viveu sua vida, pois com certeza todos somos responsáveis por nossas escolhas, nem como ela morreu, se foi por overdose ou doença. Importa o que ela fez com o seu tempo, e no caso dessa moça, ela fez música de primeira qualidade. E com certeza a sua música e a sua linda voz vão eternizá-la. Mas só o que a gente ouve é da sua vida desregrada, da coincidência (como se fosse mesmo!) de ter morrido aos 27 anos (a praga dos 27!) como outros ídolos jovens do pop/rock.
Kurt Cobain

Jim at his best!
Janis também morreu aos 27, vítima de uma combinação fatal de álcoo e heroína.

Impossível não lembrar de Janis, Jim Morrisson, Jimi Hendrix, Kurt Cobain... todos almas atormentadas, vítimas do álcool e do uso abusivo de drogas, mas indiscutivelmente gênios, criativos, e que nos deixaram um belo legado. Que pena, já imaginou o que esses caras teriam feito se chegassem à idade do Mick Jaegger, Keith Richards, Eric Clapton e outros "porra loucas" do rock que souberam segurar sua onda??

Fica a música, e, no caso da Amy, o meu arrependimento de não tê-la visto ao vivo quando tive a oportunidade!
RIP, girl!


Para ouvir mais: A linda versão de "Will you still love me tomorrow?", gravada para a trilha sonora do filme "Bridget Jones - No limite da Razão". Será que ainda vamos amá-la amanhã?? Eu sei que eu vou!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ser ou Ter?


Ainda da série "dicas de férias", o post de hoje é sobre um livro que vem me acompanhando a quase duas semanas (comprei na La Selva do aeroporto, já li e continuo relendo algumas partes), "Sócrates Jesus e Buda - Três mestres de Vida", do francês Frédéric Lenoir. O livro é fascinante em muitos aspectos, pois, baseando-se em uma bem fundamentada pesquisa, o autor tenta entender por que os ensinamentos de Sócrates, Jesus e Buda sobre responsabilidade individual e tolerância continuam tão pertinentes. O autor descobre que eles têm muito em comum, e que a base de suas ideias está na noção de uma busca espiritual que foi determinante para a criação de um novo tipo de homem: um indivíduo autônomo, responsável por suas escolhas e ações.

Contra uma visão puramente materialista do homem e do mundo, Sócrates, Jesus e Buda são três mestres de vida. Suas palavras derrubaram preconceitos, dogmas e costumes, e atravessaram séculos sem envelhecer.
Já no Prólogo o autor "me ganhou", propondo uma reflexão sobre os rumos da modernidade e a eterna questão: ser ou ter? Como o prólogo é muito grande pra transcrever aqui (estou seriamente tentada a postar tudo..), segue uma citação que me pareceu muito pertinente, e que me deixou morrendo de vontade de ler mais:
"Buda, Sócrates e Jesus são os fundadores do que eu chamaria de "humanismo espiritual". O filósofo Karl Jaspers dedicou-lhes o primeiro tomo de sua história da filosofia (acrescentando Confúcio) e os considera "aqueles que deram a medida do humano". O que pode haver de mais necessário e atual diante da urgência de reconstrução de uma civilização que se tornou planetária? Um planeta excessivamente dilacerado entre uma visão puramente mercantil e materialista de um lado, e um fanatismo e um dogmatismo religioso de outro. Duas tendências aparentemente contrárias e que, não obstante, têm tudo para levar o mundo ao caos, mantendo o ser humano na lógica do "ter", da obediência infantilizante e da dominação; Estou convencido de que apenas a busca do "ser" e da responsabilidade - individual e coletiva- pode nos salvar de nós mesmos. É o que nos ensinam,há mais de dois milênios, cada um a seu modo, Sócrates, o filósofo ateniense, Jesus, o profeta judeu palestino, e Sidarta, chamado Buda, o sábio indiano."
Além de ser de fácil leitura, o livro faz com que nos questionemos sobre questões fundamentais a respeito do que é o conhecimento verdadeiro, o que somos, a busca pela verdade, o que é a justiça, e sobretudo, a importância  do amor e da compaixão. Enfim, tudo aquilo que, parafraseando Nietzsche, nos faz demasiado humanos. Mesmo  pra quem não gosta muito de filosofia ou religião, é uma boa leitura! 
Fik a dik...

"Jesus Christ Superstar", 1973


Referências e Links para este post:
Lenoir, Frédéric. Sócrates, Jesus, Buda: três mestres de vida. tradução Vera Lucia dos Reis - Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.

Trilha Sonora: My favorite song from the musical "Jesus Christ Superstar", de 1973, "I don't know how to love him", sung by the unforgettable Yvonne Elliman, former backing vocal for Eric Clapton's band and many other famous groups.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Revivendo o Movimento Punk

Mais uma dica de férias para for ao Rio de Janeiro, de 11/07 a 06/10 rola uma exposição imperdível pra quem gosta de rock, especialmente de punk rock, ou se identifica com a atitude: É a "I am a Cliché" - Ecos da Estética Punk, no Centro Cultural Banco do Brasil.

Essa exposição foi organizada na França (eles sempre avant garde, não é?) e chega agora ao Brasil para expor a visão de doze artistas consagrados sobre o movimento que nasceu nos subúrbios ingleses no finalzinho dos anos 70 e tomou conta do mundo, influenciando bandas, escritores, cineastas, o povo da moda, e fazendo a cabeça de muitos jovens (dentre os quais me incluo, pois quando o punk chegou no Brasil, no início dos 80, eu era bem jovem!!!). Até hoje lembro a cara de horror da minha mãe ao ver meus jeans rasgados com a meia arrastão aparecendo, minhas camisetas do Ramones, Sex Pistols,  e Dead Kennedys, dos coturnos pretos tipo exército, sem falar dos meus cabelos quase moicanos...  Desespero total... Hehehe... E muita reclamação pelo "barulho" que vinha do meu quarto, aqueles três acordes repetidos um milhão de vezes em meio a muita gritaria!!!

Depois veio The Clash ("London Calling" é ainda, na minha opinião, um dos top ten rock albuns of all times!), The New York Dools, Billy Idol, Siouxie, e outros, uns sonzinhos mais "melódicos". Mas isso já é outra história que outro dia eu conto. 

Prmeiro LP do Ramones, quase furei de tanto ouvir!

Agora, o merchan do evento:
A exposição I am a Cliché – Ecos da estética Punk resgata a gênese plástica do estilo musical que rejeitou o convencional no Centro Cultural Banco do Brasil. Com título emprestado de uma composição da banda X-Ray Spex, a exposição reúne o olhar de 12 consagrados artistas sobre o status da imagem e suas metamorfoses dentro da estética punk: Andy Warhol, Bruce Conner, David Lamelas, David Wojnarowicz, Dennis Morris, Destroy All Monsters, Jamie Reid, Linder, Peter Hujar, Robert Mapplethorpe, Ronald Nameth e Stephen Shore.
O famoso logo da Anarquia, princípio "político" do Movimento Punk. que a galera tatuava e pichava geral!
 Ao todo, 150 obras, entre fotografias, fotocolagens, banners e instalações sobre as várias fases do movimento punk, estarão espalhados pelo segundo andar do CCBB. Dos silenciosos Screen Tests de Andy Warhol aos retratos icônicos de Patti Smith feitos por Mapplethorpe; das fotocolagens subversivas de Jamie Reid; dos corpos de palco distorcidos de Dennis Morris e Bruce Conner à apropriação das poses de estrelas do rock destronadas; das sombrias escapadas da cidade de Peter Hujar às capas dos discos da coleção de vinil de Thierry Planelle.
O punk no mundo e no Brasil
Num período pós-guerra, vivendo o auge da guerra fria, a Europa dos anos 70 se apresentava como um cenário propício ao surgimento de movimentos de contestação social. Dos subúrbios ingleses, grupos de jovens se rebelavam contra o modismo e todo tipo de controle, iniciando um movimento de deboche aos valores morais, sociais e políticos estampado no modo de se vestir, agir e pensar. O Punk surge como uma tentativa de destruir a estética e romper com os costumes, mas, ironicamente, se consolida como um dos mais importantes movimentos plásticos do século passado. As roupas velhas e rasgadas, os cabelos coloridos e espetados e o rock’n'roll menos pretensioso e de poucos acordes, aos poucos, passaram a ser adotados como ideal de uma juventude que lutava contra a decadência social e tédio cultural.

Repli em ação.
No Brasil, o movimento teve início nos anos 80, momento em que a população lutava pela abertura política e pela liberdade de direitos. O primeiro festival de música punk aconteceu em São Paulo, no Sesc Pompéia, nos dias 27 e 28 de novembro de 1982, com o título “O começo do fim do mundo”. A banda gaúcha “Os Replicantes”, formada pelos músicos Vander Wildner, Claudio Heinz, Heron Heinz, Carlos Gerbase e Luciana Tomasi, é considerada uma das precursoras do movimento Punk no Brasil.

 Ah que saudade dos shows do Replicantes no Ocidente em Porto Alegre, o povo se acabando no pogo e os mais ousados se jogando no palco no "popular esporte" de mosh!!
Me deu até vontade de escrever outro post sobre o Movimento Punk, e colocar um set list das 10 melhores músicas (???) de três acordes daquela época, na minha modesta opinião! Mas fica pra outro dia, fik a dik, se você se identifica com o estilo rebelde e contestador dessa galera e tiver uma oportunidade, passa lá no CCBB. (siga o link para maiores informações sobre a mostra).
E para ler um pouquinho sobre a (enorme) influência estética do punk na moda e outras áreas, check out this link: Revista Cult, Edição 96.
Have fun!!!
Dolce & Gabbana Punk Stilleto Heels - I want soooo much!!!
Este post é pra celebrar o Dia Mundial do Rock, 13/07 de qualquer ano!

Fontes: www.wikipedia.org e rioscope.com.br, acessados em 13/07/2011.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

quem disse que música budista é só mantra?

os the darma lóvers - rock budista que faz bem à alma

Hoje estou inaugurando a minha série de posts de férias. Todos bem light, nada de psicologia, filosofia e eteceteras. Dicas de férias, sem pretensão de serem sérias... Pra começar, minha primeira dica é relaxar ao máximo, de preferência ouvindo boa música...
Trago pra vocês uma banda gaúcha com a qual tenho uma relação muito forte, de amor, de amizade, de aprendizado, de fã... Os The Darma Lóvers.
Uma dupla de praticantes do budismo tibetano , morando no alto de um morro ao lado de um Templo Budista tradicional no interior do Rio Grande do Sul decidem fazer música a partir de suas experiências meditativas, mixando blues, mpb, psicodelia, tropicália,  rock´n´roll e algo mais .
 Surgem daí Os the Darma Lóvers  criando o assim chamado ZEN ROCK ,em  um formato pop/universal para inspirar relaxamento e reflexão com humor , estilo e poesia.
 
É assim mesmo, com "os the" e acento no "ó":
Darma = o conjunto de ensinamentos deixados pelo Buda
Lóvers = amantes ...
the = por ser a marca registrada de quaaase todas bandas que os Dj´s amam:
the Rolling Stones ,the Beatles , the Who...
Os = pra ficar claro que são brasileiros e cantam em português, ora !



Já foram cinco CDs gravados, com o sexto saindo ainda este ano. Para saber mais acesse a homepage da banda e o blog, com escritos "óóóóteeeeemos" do Nenung... E deixe o som te levar!!!


                                                   "Desapego", CD "Básico", 2000





                                              "Keep Going", CD "Básico",  2000.
                                  




Uma das minhas letras favoritas: (siga o link abaixo para letras e vídeos da banda)
Composição: Nenung
 
"Pude eu me achar nisso que sou agora
Melhor será dizer aqui bem onde estou
Sei que não sou nada que possa durar
Mas me reconheço e sei mudar
E isso é bom...
Irínia cantando com a alma!
Perco o endereço mas tenho atenção
Pra me dar suporte, sempre um eixo
Às vezes apresso o passo e caio em confusão
Mas já não cultivo meus tropeços
E isso é bom
Isso é bom sentir
A casa e o amor são gigantescos
Se isso é som, nisso posso voar
E dar valor ao que já não tem preço
Fui gigante desde que conheço
Esse mundo imenso que carrego em mim
Mas nunca maior que qualquer outro não
Gigantesco como todos são
Veio o tempo do esquecimento
Me vi tão pequeno e inseguro
Mas o labirinto é só cimento então:
Basta ir acima dos seus muros!
E isso é bom
Isso é bom sentir
A casa e o amor são gigantescos
Se isso é som, nisso posso voar
E dar valor ao que já não tem preço
E isso é bom
Isso é bom sentir
A casa e o amor são sem limites
Se isso é som, nisso posso voar
E ser tudo que essa vida permite
E ser tudo que essa vida permite"

                                                     


Porque cantando e dançando também dá pra meditar...


terça-feira, 12 de julho de 2011

Para que a Psicologia?


No post anterior a este (aí de baixo), tentei responder a esta questão com uma visão bem pessoal da finalidade do estudo da Psicologia para mim. E discuti brevemente sobre as tentativas de resposta com as quais nos deparamos ao longo de nossos estudos nas várias disciplinas deste primeiro semestre na Universidade, sem, no entanto, ousar uma tentativa de resposta “acadêmica” a esta polêmica questão. Mas acho que agora essa “ousadia” se faz necessária!

Desde a nossa primeira aula, de História da Psicologia, com a Prof.ª Ana Cristina (que, no final das contas foi só a primeira aula, pois a Ana acabou “virando” o Roberto!) ouvimos que “a psicologia tem um longo passado e uma curta história”, e que a função do psicólogo é “produzir subjetividade”, que deveríamos ler um texto chamado “O que é a Psicologia?” (Georges Canguilhem) e que leríamos muito Foucault. Opa!! Logo pensei, isso aqui é diferente, é “uma outra parada”! 

 Foi uma agradável surpresa perceber que a minha formação não seria, exatamente, “convencional”, e isso ficou claro desde o início do curso.  Ficou claro também que a proposta de ensino do Curso de Psicologia da UFF em Rio das Ostras seria bem interessante. Professores jovens, sem aquele “ranço professoral autoritário” tão comum nas universidades, principalmente nas que eu frequentei (ambas católicas, diga-se de passagem). Os nossos sentam no bar pra tomar uma cervejinha e discutir filosofia, psicologia, arte, música, o que der na telha, com os alunos... Nos oferecem uma abordagem de temas e autores bem contemporâneos, com a preocupação com uma formação mais crítica, com a ideia de ensinar a pensar... Professor com tese sobre capoeira e psicologia da aprendizagem, professor especialista em cinema, outro tentando nos mostrar que existem alternativas em informática (mais livres, democráticas e abertas) além das grandes corporações, e  que podemos pensar nossas práticas de uma maneira diferente do que é considerado “mainstream”...  Tudo isso me surpreendeu e encantou muito.

Ficou bem claro para mim, através das leituras dos autores citados no outro post, que a ideia da Psicologia como uma ciência una, a tal que busca desvendar os mistérios da alma humana (a scientia de anima que, pretensiosamente, dá nome a este blog) é uma ilusão. Não existe uma só Psicologia, e os estudiosos dessa complexa área estão sempre buscando a melhor maneira de explicar o que fazem exatamente.  Como nos diz Garcia Roza,
 “a psicologia, desde que surgiu, tem estado às voltas com o problema de sua justificação”.
O princípio délfico, gnōthi seauton, ou nosce te ipsum - Conhece-te a ti mesmo

Ao nos defrontarmos com as ideias de Foucault sobre uma visão genealógica da história e das ciências humanas (conforme abordado em um post anterior aqui no scientia de anima), percebemos a importância de termos uma leitura múltipla dos acontecimentos do mundo e de onde eles nos levam. Aprendemos que para ser ciência a Psicologia teve que trilhar um árduo caminho de negação da “anima” primordial e da filosofia que a viu nascer. Refletimos sobre como a psicologia, herdeira da tradição grega do cuidado de si, das práticas de si, precisou tornar-se busca pelo conhecimento (“conhece-te a ti mesmo”), e como
 “Ao perseguir o ideal de rigor e de exatidão das ciências da natureza, ela (a psicologia) foi levada a renunciar aos seus postulados”. (Michel Foucault, “A Psicologia de 1850 a 1950”, 1957)

Psicologia, dispersão do saber
E aprendemos que foi através da sua fragmentação, da sua dispersão em muitos saberes que a Psicologia conseguiu achar o seu caminho e se tornar o que é hoje, essa multiplicidade de teorias, conhecimentos e práticas que buscam entender o homem na sua totalidade física e psíquica.

Foi um grande desafio desvendar os escritos de Nietzsche, ter que ler Kant e entender porque ele “vetou” a psicologia como ciência, apesar de reconhecer seu valor como disciplina, desde que experimental.  Tentar entender como a Psicologia, de “a mais útil de todas as ciências” passou a ser “não suficientemente ampla e sistemática”. Cito abaixo os dois trechos onde me deparei com essas ideias, à primeira vista tão contraditórias:
“(...) sem o conhecimento da natureza, das faculdades, qualidades, estados, relações e destinação da alma humana, nós não podemos julgar nem decidir sobre nada, nem determinar nada, nem escolher, nem preferir nada, nem fazer nada com segurança e sem erro. Assim, a psicologia é a primeira, a mais útil de todas as ciências, a fonte, a fundação de todas e o guia que conduz cada uma delas.” (Mingard, 1770-1775: 511-513)
Adorei essa, acho que vou colocar como apresentação do blog! Mas aí, olha o que nos diz ilustríssimo filósofo de Königsberg:
“A razão pela qual a psicologia foi situada no interior da metafísica é evidentemente a seguinte: ninguém nunca soube realmente o que é a metafísica, apesar de ter sido por tanto tempo objeto de muita explanação. Não se sabia como determinar as fronteiras de seu território e por isso muito do que nele foi posto não era cabível [...]. A segunda razão era evidentemente esta: a doutrina empírica dos fenômenos da alma não tinha chegado a qualquer sistema que pudesse constituir uma disciplina acadêmica separada. Se ela fosse tão extensa quanto a física empírica, então ela teria sido separada da metafísica. Mas sendo muito pouco extensa e como não se quis descartá-la inteiramente, empurraram-na para a metafísica [...]” (Kant, 1968: 223-224)
Hã??? Como assim?? Lá vai a Psicologia tentar de todo modo ser física para ter um lugar entre as ciências... E aí descobrimos Wundt, para quem a subjetividade não é uma substância separada da experiência, para quem “não somos nada fora da experiência” e que procura, então, nela, o seu objeto, mas com uma abordagem sistemática e lógica (método descritivo e comparativo), trazendo a ideia da Psicologia como a ciência da consciência. Mais parecido como o que eu achava ser psicologia, mas ainda um tanto vago...

 Então, conhecemos o behaviorismo e aprendemos que esta abordagem da psicologia abdica totalmente da ideia de subjetividade, influenciada pelo positivismo (materialismo científico), pelas teorias evolucionistas e pelo pragmatismo. Entram em cena “a psicologia do ato”, onde não há realidade ou subjetividade, somente “ações”,  e o behaviorismo radical de Skinner, influenciado pelo Funcionalismo e pelas ideias de William James, entre outros,  dando ênfase ao comportamento dos organismos,  oscilando entre uma concepção mentalista da psicologia e a noção de reflexos (proposta por Pavlov), transformando toda a psicologia em análise do comportamento humano baseado numa relação entre estímulos e resposta,
 “ uma  proposta que se atém ao estudo do comportamento a partir do próprio comportamento, sem o recurso explicativo a qualquer outra entidade.”
Bem, dessa parte a anima está definitivamente excluída... E a caloura continuava sem saber, “mas afinal, o que é a psicologia?”

Princípio geral da Gestalt: O todo é diferente da soma de suas partes.
Já no finalzinho do período as coisas começaram a ficar melhores, quando fomos apresentados à Psicologia da Gestalt (ou da Forma), e aprendemos que ela significou “um retorno à experiência psicológica”, ao afirmar que a subjetividade é a base da percepção, e que “a tarefa da psicologia é dar conta da percepção tal como é vivenciada por cada um de nós”, e que “nossa experiência perceptiva é marcada por relações de sentido e de valor, e não apenas por um acúmulo de sensações.”

Diz-nos Koffka, um dos principais pensadores da Gestalt que

“Cabe à psicologia apontar o caminho onde a ciência e a vida hão de se encontrar” (1975)
Mas de todas as teorias e leituras feitas, a que mais me agradou e intrigou, que me fez pensar, foram os textos de Felix Guattari “Cultura, um conceito reacionário?” e “ Subjetividade e História”, que nos coloca a questão do psicólogo como agente de produção de subjetividade não alienada e produtor de singularização (conforme citei no outro post dessa série), de onde li o conceito mais impactante para mim neste semestre:

“A subjetividade está em circulação nos conjuntos sociais de diferentes tamanhos: ela é essencialmente social, e assumida e vivida por indivíduos em suas existências particulares. O modo pelo qual os indivíduos vivem essa subjetividade oscila entre dois extremos: uma relação de alienação e opressão, na qual o indivíduo se submete à subjetividade tal como a recebe, ou uma relação de expressão e criação, na qual o indivíduo se reapropria dos componentes da subjetividade, produzindo um processo que eu chamaria de singularização.”

Espero que a minha formação em psicologia me aproxime da segunda vivência da subjetividade!

E aí então eu consegui dormir mais tranquila, já quase certa de que consegui descobrir o que é a psicologia: não é só filosofia, não é só metafísica, não é só sensação, comportamento, consciência, experiência, e produção de subjetividade, mas é um pouco de tudo isso, e acho que muito mais. Mas o resto dessa história eu imagino que só vou conseguir contar no segundo semestre, pois ainda há muitas teorias e sistemas psicológicos a descobrir, desvendar e refletir! Nem chegamos ao Tio Sigmund ainda... muita água vai rolar antes que eu consiga responder com clareza, afinal, para que a psicologia! Living and learning... Mas agora, deixa o meu cérebro tirar férias... Até Agosto!


Referências Bibliográficas para este post:

FERREIRA, Arthur Arruda Leal, JACÓ-VILELA, Ana Maria e PORTUGAL, Francisco Teixeira. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, Rumos e Percursos. Rio de Janeiro: Nau Ed., 2007.
FOUCAULT, Michel. Problematização do Sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise. 2o Edição. Volume 1. Coleçao Ditos e Escritos. Forense Universitária. 2009
GARCIA ROZA, Luiz Alfredo. Rádice. Revista de Psicologia, ano 1, nº 4, 1977.
GUATTARI, Félix e ROLNIK, Sueli. Micropolítica – CARTOGRAFIAS DO DESEJO. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Afinal, para que a Psicologia?

Ѱ Scientia eorum quae per animas humanas possibilia” (A Psicologia é a ciência das coisas que são possíveis através da alma humana) – Wolff, 1728:58
 
Bem, ao longo desse primeiro semestre do curso, tentamos formular uma resposta coerente para esta questão fundamental, que nos perseguiu durante os estudos de várias disciplinas. Lemos vários textos de Garcia Roza, Foucault, Canguilhem, Norbert Elias, Descartes, Nietzsche, Kant, Arthur de Arruda Ferreira, Guattari, e Deleuze, entre outros, para as disciplinas de História da Psicologia, Fundamentos Epistemológicos e Filosóficos da Psicologia, Teoria e Sistemas Psicológicos, Psicologia e História Social, Psicologia e suas Conexões, que muitas vezes nos confundiram mais do que ajudaram a achar uma resposta para o problema. Ou pelo menos, em um primeiro momento. Acho que agora, terminado o semestre, leituras feitas, refeitas, provas concluídas e depois de alguma reflexão, estamos em condições de responder a esta pergunta com alguma clareza.


Na verdade, para mim essa pergunta sempre representou duas linhas importantes de reflexão, uma acadêmica, requerida pelo curso, e outra, estritamente pessoal: afinal, para que a psicologia na minha vida agora, porque a opção de reingressar na Universidade para cursar psicologia, depois de já ter uma profissão definida, três filhos, uma rotina corrida e cheia de responsabilidades?


A vontade de voltar aos bancos escolares já me perseguia há algum tempo, por estar já um tanto entediada com a vida de professora-tradutora-intérprete, a vontade de fazer algo mais, algo diferente, começou a se transformar em um desejo forte de investir na minha formação acadêmica, ler outras coisas, conviver com outras pessoas, pensar outras questões... Acho muito importante pensar a educação como um processo contínuo de desenvolvimento pessoal, procuro  aprender coisas novas sempre que posso, e essa “recarga” só faz bem à alma, às minhas relações pessoais, e ao convívio com a família. Essa necessidade de me “reinventar” every once in while sempre fez parte de mim, acho que me define.

E por que a Psicologia? Bem, sempre tive muito interesse pelas questões que envolvem a alma humana, de um ponto de vista mais “espiritual”, mas também pelas questões de como pensamos o que pensamos, como sentimos, como aprendemos, como o nosso inconsciente nos molda, e de certa forma define como agimos, como somos. Sem falar nas eternas questões filosóficas “quem somos?”, “para onde vamos?”, “to be or not to be”, blá, blá, blá... Enfim, buscando um melhor entendimento do mundo e do que nos faz humanos, a Psicologia me pareceu o melhor campo para buscar tentativas de respostas a tais questões.


Ter me tornado mãe também foi uma razão do meu interesse pela área, pois desde que meu primeiro filho nasceu passei a ser uma consumidora voraz dos tais livros de autoajuda (arghh, hj em dia corro deles!), de psicologia do desenvolvimento infantil, inteligência emocional, estimulação, Shantala, enfim, tudo que pudesse me ajudar a entender melhor o que estava se passando com aqueles pequenos seres que eu agora tinha a responsabilidade de criar, cuidar, formar, depois de tê-los desejado tanto e os posto no mundo. Mães sempre querem acertar e ser perfeitas, e por isso mesmo erram muito e estão longe da perfeição... Mas seguimos tentando, e tentar entender o mundinho dos nossos filhos e fazer o que estiver ao nosso alcance para que eles vivam bem e se tornem pessoas, responsáveis por suas escolhas e conscientes, sempre me pareceu a principal tarefa dos pais. Sempre ouvi aquele famoso lugar-comum, “criamos os filhos não para a gente, mas para o mundo”, e para mim a questão sempre foi, “que tipo de pessoas eu quero no mundo?” e minhas ideias sobre educação sempre foram pautadas nessa premissa.




Foi também importante na escolha da Psicologia a esta altura dos acontecimentos a minha preocupação em tentar, através das minhas habilidades, ser um agente de transformação do mundo em geral, e especificamente, da sociedade em que vivemos. Achei que a minha experiência no magistério, primeiro como aluna de um curso de formação para professores, depois como professora, poderia ser útil para auxiliar na capacitação das pessoas que trabalham com educação. Acredito que investir na educação, tanto de nossas crianças como de nossos professores, é o que esse país precisa para realmente dar um salto de desenvolvimento. E, como os psicólogos podem ser agentes de transformação através das suas práticas, se essas estiverem comprometidas não com a normalização dos indivíduos, mas com a produção de uma subjetividade não alienada ou alienante, de processos de singularização subjetiva, conforme nos propõe Guattari


“A partir do momento em que os grupos adquirem essa liberdade de viver seus processos, eles passam a ter uma capacidade de ler sua própria situação e aquilo que se passa em torno deles. Essa capacidade é que vai lhes dar um mínimo de possibilidade de criação e permitir preservar exatamente (...) sua autonomia tão importante.”

Nestas palavras, na possibilidade de inserção do trabalho do psicólogo nesta linha de pensamento, encontrei a resposta, totalmente de cunho pessoal, à questão da finalidade da Psicologia na minha vida. Se eu conseguir, através do meu saber e da minha experiência, auxiliar outras pessoas, nas suas buscas pessoais, a encontrarem respostas que as levem a se tornarem indivíduos mais completos, com todas as suas singularidades, com certeza estarei muito realizada profissionalmente.

Referências Bibliográficas deste post:

GUATTARI, Félix e ROLNIK, Sueli. Micropolítica – CARTOGRAFIAS DO DESEJO. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.
FERREIRA, Arthur Arruda Leal, JACÓ-VILELA, Ana Maria e PORTUGAL, Francisco Teixeira. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, Rumos e Percursos. Rio de Janeiro: Nau Ed., 2007.

Trilha sonora deste post: A música que me fez começar a me questionar acerca do que eu queria fazer com minha vida, lá longe nos meus 15 anos... 
“If I could, you know I would let it go/ this desperation, dislocation, separation, condemnation, isolation, desolation… to let it go… and so fade away… I’m wide awake, I’m not sleeping”
U2, “Bad”, Wide Awake in America, 1985.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

School's Out!!!

Até que enfim as férias chegaram, depois de duas semanas bem tensas de provas e resultados!!
Mais uma vez a galera do primeiro período deu show de companheirismo e espírito de equipe, todo mundo estudando junto, trocando resumos e passando as matérias antes das provas!

Galera estudando antes da prova do Hildes,  foto do blog Psicose (By Jade Calais)

E até na disciplina do Hildes, que todo mundo estava com medo de não conseguir passar, ninguém ficou para a temida VS! Parabéns pra nós!
Ainda deu tempo de fazer uma pequena comemoração de final de semestre, com um bolo muito especial preparado (a duras penas!) pela Marina e pela Isabela, para homenagear os nossos professores bolsistas! Foi lindo...

Galera do Primeiro Período confraternizando!! Nós todos somos vitoriosos!

Eu estava bem ansiosa na última semana para saber as notas, acho que não só eu...
Mas ainda bem que no final deu tudo certo, passei sem VS em todas as matérias, e consegui atingir a minha meta de fazer média 8,0 nas disciplinas que cursei este semestre. Bem, ainda falta saber a nota final da prova de Genética, mas como achei a prova bem tranquila, acho que não terei nenhuma surpresa... Assim espero!!

Na próxima semana teremos ainda a avaliação dos trabalhos dos blogs para a disciplina de Informática, e devo dizer que a qualidade dos blogs da galera está ótima!! Tem blog para todos os gostos, com muita coisa interessante... tem de tudo, tem blog sobre música, o Melodia Psicológica, do Bruno, tem a Marina falando sobre dependência quiímica, a outra Marina fazendo um link da Psi com o cinema no Luzes, Divã, Ação, tem ainda a terceira Marina dividindo com a galera a experiência dela em dança de salão, com uma proposta bem interessante de Dança como recurso terapêutico, tem a Isabela filosofando, com belos textos no Filosofia, Psicologia e Arte, tem o Dr. Eduardo "arrasando" no Ciência e SociedadeGenética do Comportamento no blog do Lino com um post novinho sobre depressão, tem o Pablo falando de Psicologia e Religiões, tem o blog lindo da Thaís Magalhães sobre cromaterapia - Psicologia das Cores, tem o fofíssimo Psicolandia da minha amiga Sarinha Martinez, a quem eu devo o lindo fundo do Scientia de Anima (thanks, buddy!), tem o Ricardo no Vertentes, e tem o blog hilário da Jade, uma visão bem humorada sobre as neuras nossas de cada dia, o Psicose. Tem mais, mas se eu citar todos o post vai ficar enorme!! Estão todos no meu blog roll aqui ao lado. Ainda espero ansiosamente a estréia do blog da Bruna (vai merecer um post só seu, pelo visto!), sobre cinema e Psicologia.

Bem, acho que estamos todos de parabéns por um excelente primeiro período, onde nós "ralamos", nos desesperamos com tantos textos, mas também aprendemos muito, e com certeza construímos as bases para um excelente relacionamento ao longo do nosso curso, espero que a gente continue uma turma unida, com personalidade, e que o sucesso desse primeiro semestre continue nos próximos!
Valeu, galera, agora é curtir cada minutinho das férias, e voltar com todo o gás! Nos vemos na primeira semana de Agosto?? I hope so...
Foi muito bom ser caloura novamente com vocês! Beijos!


Trilha sonora deste post: Classic Alice Copper's "School's Out", live in Paris with Slash (former Guns n'Roses), rocking away!!  And more, Go Go's "Vacation". Have a fantastic vacation, everybody!!















quinta-feira, 7 de julho de 2011

...porque um pouquinho de humildade não faz mal a ninguém!

Dr. Roberto da Matta

Recentemente, na nossa aula de Psicologia e Suas Conexões, estudamos um texto do antropólogo Roberto da Matta, “Carnavais,Malandros e Heróis”, publicado originalmente em 1979, que discute  algumas particularidades da nossa cultura, e se tornou referência  para quem quer conhecer um pouco mais os costumes da sociedade brasileira. (Siga o link acima para um resumo desta obra). O capítulo que debatemos discute o uso da expressão “Você sabe com quem está falando?”, tão comum na nossa sociedade, e que é sempre utilizada como uma maneira de resolver um conflito, de estabelecer uma situação de hierarquia. Utilizando o conceito da Tia Wiki pra explicar melhor:

“ A distinção entre indivíduo e pessoa é bem demarcada em seu original trabalho sobre a conhecida e ameaçadora pergunta: ” Você sabe com quem está falando?”. Os seres humanos que se sentem autorizados a se dirigir dessa forma aos outros, colocam-se na posição de pessoas: são titulares de direito, são alguém no contexto social. Os seres humanos a quem tal pergunta é dirigida são, para as pessoas, meros indivíduos, mais um na multidão, um número.”
É neste contexto que estávamos analisando o texto de Da Matta, para complementar outras leituras a cerca do nascimento do Individualismo na sociedade moderna, e como esta distinção entre indivíduo e pessoa ocorreu.

O fato é que vivemos em uma sociedade cada vez mais individualista e egocêntrica, onde o culto do ego impera, o “se dar bem a qualquer preço virou” um valor e os nossos discursos são impregnados pelo eu, eu, eu, eu. Todos carregamos esse “eu” imenso, sem nos darmos conta da nossa própria miséria e pequenez. É incrível como tem gente que pensa, realmente, que sua posição social, poder econômico, cor da pele, religião, cargo ou relações familiares lhe dão alguma espécie de vantagem, de “direito divino” sobre os outros, pobres mortais, que devem reconhecer a sua superioridade! Soberba, pretensão, em minha opinião pura pobreza de espírito. Mas infelizmente essa prática ainda é bem comum na nossa sociedade, e, assim como o preconceito velado e o paternalismo, são estruturas da sociedade brasileira que estão profundamente arraigadas no nosso jeito de ser e são difíceis de mudar.


Mas pesquisando por aí encontrei um vídeo de uma palestra do Mário Sergio Cortella, filósofo e palestrante, que coloca a questão do “Sabe com quem está falando?” no seu devido lugar, dando às coisas a perspectiva que elas realmente tem! Acho que todos precisamos de um pouquinho mais de humildade, de olhar em volta e perceber que somos apenas uma minúscula parte em um todo infinitamente maior, e ficar pensando que somos o umbigo do mundo e os seres mais importantes do universo (ou seria multiverso??) é de uma babaquice sem tamanho! Lembre-se: “você é o vice-treco do sub-troço”!!!

 

     Um vídeo sobre a arrogância de alguns simples mortais!

Vale ver o vídeo até o fim para ver as coisas sobre outra perspectiva, e se algum dia alguém te disser “Você sabe com quem está falando?”, você com certeza vai ter a resposta na ponta da língua.

Referência Bibliográfica:

DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 6 ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.




segunda-feira, 4 de julho de 2011

Psicologia e Oncologia - O papel do psicólogo no apoio aos pacientes de câncer.

Durante nossas aulas de Genética Aplicada à Psicologia, com a Prof. Dra. Etel Gimba, neste primeiro período de Psicologia da UFF, tivemos a oportunidade de discutir sobre essa terrível enfermidade, suas origens, os seus diferentes tipos, fatores de risco, formas de tratamento e, principalmente, qual é o papel do psicólogo em uma equipe multidisciplinar de apoio a esses pacientes.
Pesquisando sobre o assunto, descobrimos que existe uma área inteiramente dedicada a este tema, a Psicooncologia, que é uma das muitas linhas e técnicas psicoterápicas existentes nesse vasto campo que é a Psicologia. A Psicooncologia pode lançar mão de diversas subespecialidades da terapia psicoterápica, utilizando uma abordagem freudiana, jungniana, de psicodrama ou existencial, para citar algumas, com o objetivo de auxiliar os pacientes de câncer e seus familiares a enfrentar essa doença, que sempre causa um forte abalo emocional nos pacientes diagnosticados.  O próprio nome, câncer, já é suficiente para provocar um impacto profundo, de imediato trazendo consigo uma “condenação”, angústia, insegurança e muitas vezes desespero.

O apoio de um profissional da área da psicologia é muito importante para os pacientes desde as fases iniciais do diagnóstico até as fases do tratamento propriamente dito, pois poderá auxiliar o paciente a não ver o diagnóstico como “o fim da linha”, e motivá-lo para a continuidade do tratamento, muitas vezes longo e doloroso. A estabilidade emocional do paciente será muito importante para a sua recuperação, e o psicólogo pode ajudar bastante. Pesquisas feitas pelo INCA e outros órgãos de tratamento e assistência a pacientes oncológicos têm demonstrado que o atendimento psicoterápico a pacientes e suas famílias podem aumentar significativamente os índices de recuperação e cura do paciente.

Quando o paciente ainda está na fase da investigação da doença e das fases preliminares do tratamento, ser recebido por um psicólogo é uma forma de afirmar um bom relacionamento com a equipe e a instituição de tratamento, e de diminuir a angústia e a insegurança causadas pela espera do diagnóstico e dos procedimentos a serem realizados.

O psicólogo também tem um papel importante na elaboração de uma conduta para o acompanhamento do paciente e de sua família, ao promover uma avaliação do estado emocional do paciente e definir uma modalidade de atendimento que seja adequada às necessidades deste, respeitando sua individualidade e suas necessidades. A análise do quadro do paciente oncológico revela a importância de se aplicar a psicologia como uma ferramenta de auxílio eficaz durante o processo de tratamento, tendo como proposta conhecer quem é o paciente oncológico, bem como suas particularidades, seus anseios e perspectivas em relação ao tratamento entre outros.

As modalidades de atendimento a pacientes oncológicos podem incluir o suporte individual, o suporte em sala de quimioterapia, quando esta forma de tratamento da doença se faz necessária, o atendimento em grupos de apoio, o atendimento domiciliar ou hospitalar.

 Vale lembrar sempre que não existe uma fórmula eficaz em todos os casos, é importante avaliar cada situação, pois ”o paciente oncológico é único em sua dor e sofrimento, mas também ele é grandioso em sua coragem, seu ego se fortalece em cada etapa da esperança de viver.” Pois as perdas e vitórias estão sempre presentes na vida de todos nós, e cabe ao psicólogo ajudar estes pacientes a enfrentar as dificuldades de seu tratamento, levando algum conforto e a esperança de viver uma vida digna, apesar do câncer.


Referências Bibliográficas e Links Relacionados:

SILVA, Tania Cristina. Psicologia e o Câncer.
I KICKED CANCER'S ASS. Stories, Resources and Support. Amazing blog, in English sobre pacientes de câncer e suas histórias de superação.