segunda-feira, 11 de julho de 2011

Afinal, para que a Psicologia?

Ѱ Scientia eorum quae per animas humanas possibilia” (A Psicologia é a ciência das coisas que são possíveis através da alma humana) – Wolff, 1728:58
 
Bem, ao longo desse primeiro semestre do curso, tentamos formular uma resposta coerente para esta questão fundamental, que nos perseguiu durante os estudos de várias disciplinas. Lemos vários textos de Garcia Roza, Foucault, Canguilhem, Norbert Elias, Descartes, Nietzsche, Kant, Arthur de Arruda Ferreira, Guattari, e Deleuze, entre outros, para as disciplinas de História da Psicologia, Fundamentos Epistemológicos e Filosóficos da Psicologia, Teoria e Sistemas Psicológicos, Psicologia e História Social, Psicologia e suas Conexões, que muitas vezes nos confundiram mais do que ajudaram a achar uma resposta para o problema. Ou pelo menos, em um primeiro momento. Acho que agora, terminado o semestre, leituras feitas, refeitas, provas concluídas e depois de alguma reflexão, estamos em condições de responder a esta pergunta com alguma clareza.


Na verdade, para mim essa pergunta sempre representou duas linhas importantes de reflexão, uma acadêmica, requerida pelo curso, e outra, estritamente pessoal: afinal, para que a psicologia na minha vida agora, porque a opção de reingressar na Universidade para cursar psicologia, depois de já ter uma profissão definida, três filhos, uma rotina corrida e cheia de responsabilidades?


A vontade de voltar aos bancos escolares já me perseguia há algum tempo, por estar já um tanto entediada com a vida de professora-tradutora-intérprete, a vontade de fazer algo mais, algo diferente, começou a se transformar em um desejo forte de investir na minha formação acadêmica, ler outras coisas, conviver com outras pessoas, pensar outras questões... Acho muito importante pensar a educação como um processo contínuo de desenvolvimento pessoal, procuro  aprender coisas novas sempre que posso, e essa “recarga” só faz bem à alma, às minhas relações pessoais, e ao convívio com a família. Essa necessidade de me “reinventar” every once in while sempre fez parte de mim, acho que me define.

E por que a Psicologia? Bem, sempre tive muito interesse pelas questões que envolvem a alma humana, de um ponto de vista mais “espiritual”, mas também pelas questões de como pensamos o que pensamos, como sentimos, como aprendemos, como o nosso inconsciente nos molda, e de certa forma define como agimos, como somos. Sem falar nas eternas questões filosóficas “quem somos?”, “para onde vamos?”, “to be or not to be”, blá, blá, blá... Enfim, buscando um melhor entendimento do mundo e do que nos faz humanos, a Psicologia me pareceu o melhor campo para buscar tentativas de respostas a tais questões.


Ter me tornado mãe também foi uma razão do meu interesse pela área, pois desde que meu primeiro filho nasceu passei a ser uma consumidora voraz dos tais livros de autoajuda (arghh, hj em dia corro deles!), de psicologia do desenvolvimento infantil, inteligência emocional, estimulação, Shantala, enfim, tudo que pudesse me ajudar a entender melhor o que estava se passando com aqueles pequenos seres que eu agora tinha a responsabilidade de criar, cuidar, formar, depois de tê-los desejado tanto e os posto no mundo. Mães sempre querem acertar e ser perfeitas, e por isso mesmo erram muito e estão longe da perfeição... Mas seguimos tentando, e tentar entender o mundinho dos nossos filhos e fazer o que estiver ao nosso alcance para que eles vivam bem e se tornem pessoas, responsáveis por suas escolhas e conscientes, sempre me pareceu a principal tarefa dos pais. Sempre ouvi aquele famoso lugar-comum, “criamos os filhos não para a gente, mas para o mundo”, e para mim a questão sempre foi, “que tipo de pessoas eu quero no mundo?” e minhas ideias sobre educação sempre foram pautadas nessa premissa.




Foi também importante na escolha da Psicologia a esta altura dos acontecimentos a minha preocupação em tentar, através das minhas habilidades, ser um agente de transformação do mundo em geral, e especificamente, da sociedade em que vivemos. Achei que a minha experiência no magistério, primeiro como aluna de um curso de formação para professores, depois como professora, poderia ser útil para auxiliar na capacitação das pessoas que trabalham com educação. Acredito que investir na educação, tanto de nossas crianças como de nossos professores, é o que esse país precisa para realmente dar um salto de desenvolvimento. E, como os psicólogos podem ser agentes de transformação através das suas práticas, se essas estiverem comprometidas não com a normalização dos indivíduos, mas com a produção de uma subjetividade não alienada ou alienante, de processos de singularização subjetiva, conforme nos propõe Guattari


“A partir do momento em que os grupos adquirem essa liberdade de viver seus processos, eles passam a ter uma capacidade de ler sua própria situação e aquilo que se passa em torno deles. Essa capacidade é que vai lhes dar um mínimo de possibilidade de criação e permitir preservar exatamente (...) sua autonomia tão importante.”

Nestas palavras, na possibilidade de inserção do trabalho do psicólogo nesta linha de pensamento, encontrei a resposta, totalmente de cunho pessoal, à questão da finalidade da Psicologia na minha vida. Se eu conseguir, através do meu saber e da minha experiência, auxiliar outras pessoas, nas suas buscas pessoais, a encontrarem respostas que as levem a se tornarem indivíduos mais completos, com todas as suas singularidades, com certeza estarei muito realizada profissionalmente.

Referências Bibliográficas deste post:

GUATTARI, Félix e ROLNIK, Sueli. Micropolítica – CARTOGRAFIAS DO DESEJO. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.
FERREIRA, Arthur Arruda Leal, JACÓ-VILELA, Ana Maria e PORTUGAL, Francisco Teixeira. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, Rumos e Percursos. Rio de Janeiro: Nau Ed., 2007.

Trilha sonora deste post: A música que me fez começar a me questionar acerca do que eu queria fazer com minha vida, lá longe nos meus 15 anos... 
“If I could, you know I would let it go/ this desperation, dislocation, separation, condemnation, isolation, desolation… to let it go… and so fade away… I’m wide awake, I’m not sleeping”
U2, “Bad”, Wide Awake in America, 1985.

Um comentário:

  1. Uma coisa eu discordo de voce. Mesmo depois do final do semestre, ainda nao estou em condições de responder 'O que é Psicologia?' hehe

    Ah, e você não gosta de livros de auto-ajuda? hahahahaha, eu odeio! Quando uma tia minha ficou sabendo que eu ia fazer psicologia, ela disse -Que Legal! Adoro livros de auto-ajuda... - Arghh - Pensei comigo. ;D

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