quarta-feira, 15 de junho de 2011

Essa Tal Felicidade




Há algumas semanas, na aula do Prof. Hildeberto (Psicologia e suas Conexões) estávamos discutindo um texto sobre o individualismo e sua importância para a formação do estado e da sociedade modernas, (“ Sociedade de Indivíduos”, Norbert Elias) quando a discussão acabou indo parar na busca pela felicidade (o professor, bem humorado, inspirou o título desta postagem ao dizer ”o que é esta tal felicidade?”, que tanto buscamos. Veio à tona a felicidade vendida pela mídia, tipo família no comercial de margarina, e como hoje em dia temos a sensação de estar correndo atrás da felicidade como a um ideal inatingível. A felicidade virou quase uma obrigação, e se estamos tristes logo tem alguém pra dizer que é depressão, que tem que ser tratada, como se estar feliz fosse o estado natural e lógico do ser humano. É fato que a mídia nos faz pensar que para sermos felizes, basta ter o carro da moda, o último modelo de celular, roupas de grife, um milhão de amigos no Facebook... e quem não tem isso, automaticamente se sente “outsider” e passa a vida a buscar essa dita felicidade. Mas será que é isso mesmo?
Teimo em pensar que não. A felicidade é efêmera como a vida, feita de momentos, e quem a busca como um fim em si mesmo, a maior realização de um indivíduo, acaba por estar sempre insatisfeito e... infeliz!

A matéria de capa de Revista Época de 23 de Maio de 2011 tratava exatamente disso, “O mito da felicidade”, e me fez começar a pensar mais profundamente sobre este tema.
Desde a antiguidade clássica os filósofos da escola grega epicurista, e o filósofo dos filósofos, Aristóteles, já se preocupavam sobre a busca da felicidade. Para Aristóteles, ser feliz era praticar a virtude. Para os Epicuristas, o maior bem era a procura de prazeres moderados de forma a atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo, assim como a ausência de sofrimento corporal  através do conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos. A combinação desses dois estados constituiria a felicidade na sua forma mais elevada.  A finalidade da filosofia de Epicuro não era teórica, mas sim bastante prática. Buscava, sobretudo, encontrar o sossego necessário para uma vida feliz e aprazível, na qual os temores perante o destino, os deuses ou a morte estavam definitivamente eliminados.
Já nos séculos XVII e XIX (e aí entra a nossa discussão na sala de aula), as teorias utilitaristas de  Tocqueville  (citado na matéria da revista e pelo nosso ilustre mestre), e de outros pensadores como Jeremy Bentham e  John Stuart Mill resumiam sua doutrina na máxima
“Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo)”.
Veja a diferença, falamos aqui de bem-estar, e não de felicidade como um fim.


Recentemente, temos visto a crescente divulgação das ideias da Psicologia Positiva, uma corrente moderna da psicologia que está focada na promoção da sanidade mental, em oposição à visão tradicional de tratamento da doença mental. É um novo paradigma, que tenta mudar o olhar sobre o processo saúde-doença para o bem estar e medidas preventivas ao invés de focar na doença quando ela já está presente e remediá-la, como a medicina tradicional.
O psicólogo americano Martin Seligman, um dos principais representantes desta nova psicologia, diz que “Perseguir apenas a felicidade é enganoso”, e que devemos buscar o bem-estar, viver bem, realizar-se como pessoa, relacionar-se, ajudar os outros, ter objetivos concretos para nossa vida que não sejam “genéricos” como “ser feliz”. E acima de tudo, cultivar o otimismo. Diz-nos Seligman:
“(a principal mudança é) Deixar de entender a felicidade, as emoções positivas, como o objetivo final comum, como o único fator no qual as pessoas baseiam suas escolhas. Em vez disso, há cinco objetivos: felicidade, relacionamentos, propósito, engajamento e realizações.”     
Dessa forma, não nos sentimos pressionados a estarmos sempre em busca desta tal felicidade, mas vamos vivendo, fazendo da nossa vida uma sucessão de momentos, uns felizes, outros tristes, mas que nos levam a nos aproximar do estar bem, mais real do que a obrigação de sermos felizes o tempo todo. Gosto de pensar que o segredo de viver uma vida plena é relaxar... and just be yourself. 

“When will I really see all that I need’s to look inside /the more I see, the less I know, the more I’d like to let it go!”

Links para este post:  http://www.psicologiapositivabr.com/ - Site muito legal sobre a Psicologia Positiva, e um blog com muitos textos excelentes, que inclusive inspiraram este.

Trilha sonora para este post: “A Felicidade” Tom Jobim e Vinícius de Morais, “Samba da Benção”, Vinícius de Moraes, by Bebel Gilberto, “Snow – Hey Oh”, The Red Hot Chilli Peppers.

Nenhum comentário:

Postar um comentário