sábado, 25 de junho de 2011

Resenha sobre o texto "Psicologia, Um Espaço de Dispersão do Saber"

Na nossa última aula do Prof. Roberto Preu tivemos o prazer de receber a Prof. Alessandra nos contando um pouquinho sobre a sua tese de doutorado sobre a revista Rádice, que ajudou a construir a história da Psicologia no Brasil. Nós já tivemos um breve contato com essa revista na aula do Prof. João, quando ele nos passou o texto do Luiz Alfredo Garcia Roza para ler. No link vocês encontrarão o texto em PDF, na íntegra, mas estou postando hoje uma resenha que escrevi resumindo as ideias principais. Uma das motivações foi a prova, mas, como segundo o Prof. João isso não deve ser o nosso foco, e sim apreender as ideias do texto, levá-las conosco ao longo de nosso curso, espero que seja útil a todos para pensarmos melhor a respeito... (em todo o caso, pode ajudar na prova!!)

Neste artigo, o autor coloca que o seu objetivo não é discutir a epistemologia da Psicologia, pois esta “angústia epistemológica” faz parte da discussão sobre o saber psicológico desde que este surgiu. Não é importante discutir se esse saber constitui ciência ou não – e sim, afirmar a pluralidade do mesmo.
“A psicologia, desde que surgiu, tem estado às voltas com o problema de sua justificação.”
Supõe-se, na análise do autor, que a psicologia só teria surgido com ciência a partir do momento em que se tornou empirista, verificável matematicamente (o que veio a ocorrer somente no séc. XIX a partira das pesquisas de pensadores como Wundt e Bergson), e chegou ao seu ponto máximo de cientificidade com o behaviorismo metodológico de Watson.
Tal visão da necessidade de cientificidade e empirismo para que o saber psicológico se fizesse científico teve influência da doutrina positivista de Augusto Comte. Na opinião do autor, “se a psicologia tomasse como objeto o indivíduo, ela seria reduzida à biologia, e se ela tratasse da dimensão social do homem, ela seria reduzida à sociologia”, negando-se assim a possibilidade da psicologia ser ciência. Esta foi a ideia defendida por Comte e seus seguidores, a qual foi  retificada e corroborada pelo famoso  veto kantiano” à psicologia.

Monumento à Julio de Castilhos, cheio de simbologia positivista, na Praça da Matriz, Porto Alegre, RS.
A esta crítica positivista o autor coloca o contraponto que considerar a explicação dos fenômenos psicológicos pela fisiologia é impossível, ao mesmo tempo em que dizer que a psicologia não pode ser considerada uma ciência porque sue objeto (o homem) é de extrema complexidade seria “antropocentrismo, e uma confusão típica do empirismo positivista”. O autor afirma, ainda, que  “ciência nenhuma tem por objeto a realidade empírica. O objeto das ciências são os conceitos que estas ciências produzem e não o mundo empírico”, e que “a ciência pode ter por objeto o homem, já que ela visa explicar a realidade concreta, mas o seu objeto serão os conceitos e as teorias que ela produzir.”
O autor resume as suas conclusões da seguinte forma:
“O termo psicologia designa um espaço de dispersão do saber, cuja coerência interna é um ideal provavelmente inatingível.”
Quer dizer com isso que não existe “a” psicologia, mas diversas “psicologias” que se articulam com outros saberes e outras ciências, buscando um saber sobre o sujeito,  e que são encontradas na psicologia teorias e métodos tão diferentes entre si como o poderiam ser os de ciências completamente distintas.
“Na verdade não existe, até o momento, um critério em função do qual se possa afirmar com segurança: isto é psicologia, isto não é psicologia.”

A esta discussão o autor acrescenta que tal dispersão é inerente à psicologia, que aquela faz parte da sua identidade, que a totalidade do saber psicológico forma um conjunto aditivo, não estrutural.
“Procuramos tanto identidades como diferenças, e o fato de pretendermos mostrar que aquilo que se denomina de psicologia é um imenso espaço de dispersão do saber, constituído mais por diferenças do que por identidades, não implica num menosprezo por este saber, e nem tampouco numa negação de sua eficácia.”
Tais conclusões remetem diretamente a uma discussão sobre a história da psicologia, e a forma como esta “história” deva ser contada, avaliada ou estudada.
Para o autor, as divisões da História da Psicologia são completamente arbitrárias, e então será importante considerar a “emergência do saber psicológico, sua articulação com outros saberes, seu caráter institucional, sem a preocupação de determinarmos a cientificidade ou não deste saber”.  Assim sendo, podemos avaliar a história do saber psicológico do ponto de vista da história genealógica como proposto por Foucault; então, teremos uma “genealogia da psicologia” ao invés de uma “história da psicologia”, já que “sua história não é contínua e evolutiva, mas descontínua, e que se podemos falar em um progresso, ele somente ocorre no interior de uma mesma região deste saber, e não de uma região para outra”. Desta forma, a psicologia não possui, dentro do saber científico, um lugar definido, e é essa dispersão que a forma, sendo assim inerente à própria psicologia.
“A partir de Descartes o saber a respeito do homem sofre uma divisão: enquanto o modelo mecânico da física newtoniana era aplicado a uma nova concepção do corpo, estabelecendo uma analogia entre o fenômeno mecânico e o fisiológico, um novo objeto toma corpo: a subjetividade (o psiquismo, a consciência).”

 E é a partir dessa divisão que se formam os saberes psicológicos que hoje estudamos.
Referências Bibliográficas:
Luiz Alfredo Garcia Roza. Rádice. Revista de Psicologia, ano 1, nº 4, 1977.
Amandio Gomes. Revista do Departamento de Psicologia. UFF, vol. 17 no.1 Niterói, Jan/June 2005 -
Trilha Sonora para este post: Tinha que ser, "Balada do Louco" dos Mutantes, no amazing video by Daniel Lopes.


4 comentários:

  1. olá Candy, muito legal sua resenha. eu estou procurando este texto de Garcia-roza. o link que você disponibilizou já nao funciona mais. será que pode me passar este texto ou disponibiliza-lo novamente na rede?
    meu e mail é diana_lemos02@hotmail.com.
    muitissimo grata!
    Diana

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  2. Oi Diana,
    obrigada pela visita! Olha, o link que eu cito no post na verdade é o da tese da minha professora Alessandra Daflon, que escreveu sobre a Rádice. O texto que usamos em sala foi disponibilizado pelo professor, de uma cópia da própria revista, hj bem rara! Realmente é uma pena que não exista uma cópia no Scielo ou outro lugar, dei uma pesquisada antes de te responder e não encontrei mesmo, apenas referências ao texto em outros artigos. Eu ainda tenho a cópia, o que posso fazer é tentar digitalizar e te enviar por email, ou mesmo postar aqui no blog. Que aliás anda meio desativado, espero postar mais conteúdo em breve!

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  3. Oi Candy,
    Por acaso você já digitalizou a cópia?

    Gostaria muito de ter acesso a esse texto também. Se você pudesse enviar para meu e-mail, ficaria muito grato.

    Abraço,
    Tiago

    (tiagormac@gmail.com)

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  4. Oi, eu também to precisando mto desse texto. Se vc já o tiver digitalizado, será que pode me enviar tb? O meu email é: rebecca.dr@bol.com.br.

    Obrigada!!

    Beijos,

    Rebecca

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