Esta semana iniciou-se o trabalho de um grupo de estudos na faculdade sobre Gravidez e Sexualidade na Adolescência, sob a orientação da Prof. Patricia Lima (a seguir cenas dos próximos posts: detalhamento do projeto da pesquisa e grupo de estudo), e eu não pude resistir em fazer parte, apesar do schedule já completamente atolado. O tema, além de denunciar uma situação social que assola o país, é interessante e motivador para nós, futuros psicólogos, pois representa uma área de atuação importante e necessária na nossa sociedade.
Para iniciar as discussões, nós vimos o documentário “Meninas”,
da diretora Sandra Werneck (2006), contando a experiência de quatro adolescentes grávidas nas comunidades pobres do Rio de Janeiro. Não pude deixar de me emocionar e comover muito com a história dessas meninas, todas de uma condição social precária, quase sem condições até, com uma estrutura familiar (quando existente!) tão precária quanto , crianças ainda, que geram outras crianças sem a menor noção do que estão fazendo com as suas vidas!
Como muito bem colocado em uma resenha sobre o filme no site Deustche Welle, o documentário “revela um universo cruel”, de abandono, uma realidade onde a banalização da miséria e da violência e uma ausência total de perspectivas de futuro levam essas garotas (meninas ainda!!) a achar “normal” iniciar sua vida sexual e engravidar tão novinhas. Os dados estatísticos sobre o assunto (gravidez precoce ou na adolescência) são alarmantes: segundo o IBGE, atualmente no Brasil 1/3 das mulheres entre 15 e 24 anos já teve pelo menos um filho nascido vivo, representando 27,4% da população de mulheres na mesma situação. Há algumas pesquisas que revelam dados percentuais ainda mais assustadores de gestantes menores de 15 anos. Na verdade, a definição de juventude pela faixa etária de 15 a 24 anos é muito discutida, alguns pesquisadores considerando que, na atual realidade brasileira, deveria ser considerada a faixa etária de 12 a 21 anos para estudos referentes ao comportamento da juventude no que diz respeito a sexualidade, gravidez, uso de drogas e incidência de DSTs.
Esta triste realidade não é exclusiva do Brasil, pois a atividade sexual precoce e a gravidez na adolescência são problema em quase todos os países, mesmo os mais ricos. O filme canadense-americano "Juno", de 2007 dirigido por
Jason Reitman e escrito pela iniciante
Diablo Cody, que rendeu à sua autora o Oscar de melhor roteiro original,
mostra a história de uma adolescente de classe média americana, typical american way of life, que passa pela mesma situação. Se é que há comparação possível, podemos ver similaridades: o despreparo emocional, os conflitos familiares, a incerteza sobre o futuro, um olhar ingênuo e resignado... Mas as diferenças são gritantes, quando consideramos as condições socioeconômicas e de estrutura social que as duas realidades mostram! A gravidez na adolescência tem sérias implicações biológicas, familiares, emocionais e econômicas em uma população, além das jurídico-sociais, que atingem o indivíduo isoladamente e a sociedade como um todo, limitando ou mesmo adiando as possibilidades de desenvolvimento e engajamento dessas jovens na sociedade. Devido às repercussões psicológicas e físicas sobre a mãe e sobre a criança, é considerada gestação de alto risco pela Organização Mundial da Saúde. Muito embora atualmente postule-se que o risco seja mais social do que biológico.
Muito temos ainda a discutir sobre o assunto, mas creio que algumas saídas possíveis para atenuar essa situação devem ser buscadas não somente na assistência social, mas principalmente na educação dos jovens e conscientização sobre a responsabilidade de gerar um filho. E essa tarefa deve ser da escola, da sociedade, dos meios de comunicação, mas principalmente da família desses adolescentes. Por isso, um diálogo franco, aberto e sem preconceitos sobre sexo é fundamental.
Como falar de sexo com os filhos?
- Comece a orientar desde cedo;
- Pense, pesquise e conheça sobre o assunto;
- Aprofunde o relacionamento;
- Estimule a sinceridade e retribua;
- Fale sobre quais são as regras familiares;
- Discutam juntos sobre expectativas pessoais e planos para o futuro;
- Esteja aberto para responder a qualquer dúvida;
- Tenha e promova atitudes positivas;
- Incentive o respeito ao próximo e a si mesmo.
Segundo o Ministério da Saúde:
- A cada ano, cerca de 4 milhões de adolescentes tornam-se sexualmente ativos no Brasil.
- 10,5% dos jovens entre 15 e 24 anos já tiveram pelo menos um parceiro sexual que conheceu pela internet.
- 14,6% destes jovens afirmaram que tiveram relações com mais de cinco parcerias eventuais.
- Entre esses jovens, apenas 30,7% afirmaram fazer uso da camisinha com parceiros fixos.
A 3ª Pesquisa Nacional de Demografia da Saúde da Mulher e da Criança, realizada em 2007 pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), com adolescentes do sexo feminino na faixa etária de 15 a 19 anos, revelou que 32,6% das entrevistadas admitiram ter tido a primeira relação em média aos 15 anos.
80% das adolescentes grávidas em pré-natal no Hospital das Clínicas de São Paulo abandonaram a escola.
Segundo levantamento da ONU (Organização das Nações Unidas), quase 25% das adolescentes da América Latina já ficaram grávidas pelo menos uma vez (mulheres até 19 anos).
Um filho é para sempre.
Fontes: IBGE , "O perfil da mulher jovem entre 15 e 24 anos: características diferenciais e desafios."