No post anterior a este (aí de baixo), tentei
responder a esta questão com uma visão bem pessoal da finalidade do estudo da
Psicologia para mim. E discuti brevemente sobre as tentativas de resposta com
as quais nos deparamos ao longo de nossos estudos nas várias disciplinas deste
primeiro semestre na Universidade, sem, no entanto, ousar uma tentativa de
resposta “acadêmica” a esta polêmica questão. Mas acho que agora essa “ousadia”
se faz necessária!
Desde a nossa primeira aula, de História da
Psicologia, com a Prof.ª Ana Cristina (que, no final das contas foi só a
primeira aula, pois a Ana acabou “virando” o Roberto!) ouvimos que “a
psicologia tem um longo passado e uma curta história”, e que a função do
psicólogo é “produzir subjetividade”, que deveríamos ler um texto chamado “O que é a Psicologia?” (Georges Canguilhem) e que leríamos
muito Foucault. Opa!! Logo pensei, isso aqui é diferente, é “uma outra parada”!
Foi uma agradável surpresa perceber que a minha formação não seria, exatamente, “convencional”, e isso ficou claro desde o início do curso. Ficou claro também que a proposta de ensino do Curso de Psicologia da UFF em Rio das Ostras seria bem interessante. Professores jovens, sem aquele “ranço professoral autoritário” tão comum nas universidades, principalmente nas que eu frequentei (ambas católicas, diga-se de passagem). Os nossos sentam no bar pra tomar uma cervejinha e discutir filosofia, psicologia, arte, música, o que der na telha, com os alunos... Nos oferecem uma abordagem de temas e autores bem contemporâneos, com a preocupação com uma formação mais crítica, com a ideia de ensinar a pensar... Professor com tese sobre capoeira e psicologia da aprendizagem, professor especialista em cinema, outro tentando nos mostrar que existem alternativas em informática (mais livres, democráticas e abertas) além das grandes corporações, e que podemos pensar nossas práticas de uma maneira diferente do que é considerado “mainstream”... Tudo isso me surpreendeu e encantou muito.
Foi uma agradável surpresa perceber que a minha formação não seria, exatamente, “convencional”, e isso ficou claro desde o início do curso. Ficou claro também que a proposta de ensino do Curso de Psicologia da UFF em Rio das Ostras seria bem interessante. Professores jovens, sem aquele “ranço professoral autoritário” tão comum nas universidades, principalmente nas que eu frequentei (ambas católicas, diga-se de passagem). Os nossos sentam no bar pra tomar uma cervejinha e discutir filosofia, psicologia, arte, música, o que der na telha, com os alunos... Nos oferecem uma abordagem de temas e autores bem contemporâneos, com a preocupação com uma formação mais crítica, com a ideia de ensinar a pensar... Professor com tese sobre capoeira e psicologia da aprendizagem, professor especialista em cinema, outro tentando nos mostrar que existem alternativas em informática (mais livres, democráticas e abertas) além das grandes corporações, e que podemos pensar nossas práticas de uma maneira diferente do que é considerado “mainstream”... Tudo isso me surpreendeu e encantou muito.
Ficou bem claro para mim, através das leituras
dos autores citados no outro post, que a ideia da Psicologia como uma ciência una,
a tal que busca desvendar os mistérios da alma humana (a scientia de anima
que, pretensiosamente, dá nome a este blog) é uma ilusão. Não existe uma só Psicologia,
e os estudiosos dessa complexa área estão sempre buscando a melhor maneira de
explicar o que fazem exatamente. Como
nos diz Garcia Roza,
“a psicologia, desde que surgiu, tem estado às voltas com o problema de sua justificação”.
O princípio délfico, gnōthi seauton, ou nosce te ipsum - Conhece-te a ti mesmo |
Ao nos defrontarmos com as ideias de Foucault sobre uma visão genealógica da história e das ciências humanas (conforme abordado em um post anterior aqui no scientia de anima), percebemos a importância de termos uma leitura múltipla dos acontecimentos do mundo e de onde eles nos levam. Aprendemos que para ser ciência a Psicologia teve que trilhar um árduo caminho de negação da “anima” primordial e da filosofia que a viu nascer. Refletimos sobre como a psicologia, herdeira da tradição grega do cuidado de si, das práticas de si, precisou tornar-se busca pelo conhecimento (“conhece-te a ti mesmo”), e como
“Ao perseguir o ideal de rigor e de exatidão das ciências da natureza, ela (a psicologia) foi levada a renunciar aos seus postulados”. (Michel Foucault, “A Psicologia de 1850 a 1950”, 1957)
Psicologia, dispersão do saber |
Foi um grande desafio desvendar os escritos de Nietzsche, ter que ler
Kant e entender porque ele “vetou” a psicologia como ciência, apesar de
reconhecer seu valor como disciplina, desde que experimental. Tentar entender como a Psicologia, de “a mais
útil de todas as ciências” passou a ser “não suficientemente ampla e
sistemática”. Cito abaixo os dois trechos onde me deparei com essas ideias, à
primeira vista tão contraditórias:
“(...) sem o conhecimento da natureza, das faculdades, qualidades, estados, relações e destinação da alma humana, nós não podemos julgar nem decidir sobre nada, nem determinar nada, nem escolher, nem preferir nada, nem fazer nada com segurança e sem erro. Assim, a psicologia é a primeira, a mais útil de todas as ciências, a fonte, a fundação de todas e o guia que conduz cada uma delas.” (Mingard, 1770-1775: 511-513)
Adorei essa, acho que vou colocar como
apresentação do blog! Mas aí, olha o que nos diz ilustríssimo filósofo de Königsberg:
“A razão pela qual a psicologia foi situada no interior da metafísica é evidentemente a seguinte: ninguém nunca soube realmente o que é a metafísica, apesar de ter sido por tanto tempo objeto de muita explanação. Não se sabia como determinar as fronteiras de seu território e por isso muito do que nele foi posto não era cabível [...]. A segunda razão era evidentemente esta: a doutrina empírica dos fenômenos da alma não tinha chegado a qualquer sistema que pudesse constituir uma disciplina acadêmica separada. Se ela fosse tão extensa quanto a física empírica, então ela teria sido separada da metafísica. Mas sendo muito pouco extensa e como não se quis descartá-la inteiramente, empurraram-na para a metafísica [...]” (Kant, 1968: 223-224)
Hã??? Como assim?? Lá vai a Psicologia tentar
de todo modo ser física para ter um lugar entre as ciências... E aí descobrimos
Wundt, para quem a
subjetividade não é uma substância separada da experiência, para quem “não somos
nada fora da experiência” e que procura, então, nela, o seu objeto, mas com uma
abordagem sistemática e lógica (método descritivo e comparativo), trazendo a
ideia da Psicologia como a ciência da consciência. Mais parecido como o que eu
achava ser psicologia, mas ainda um tanto vago...
Então,
conhecemos o behaviorismo e aprendemos que esta abordagem da psicologia abdica
totalmente da ideia de subjetividade, influenciada pelo positivismo
(materialismo científico), pelas teorias evolucionistas e pelo pragmatismo.
Entram em cena “a psicologia do ato”, onde não há realidade ou subjetividade, somente
“ações”, e o behaviorismo radical de
Skinner, influenciado pelo Funcionalismo e pelas ideias de William James, entre
outros, dando ênfase ao comportamento
dos organismos, oscilando entre uma concepção
mentalista da psicologia e a noção de reflexos (proposta por Pavlov), transformando
toda a psicologia em análise do comportamento humano baseado numa relação entre
estímulos e resposta,
“ uma proposta que se atém ao estudo do comportamento a partir do próprio comportamento, sem o recurso explicativo a qualquer outra entidade.”
Bem, dessa parte a anima está definitivamente excluída... E a caloura continuava sem
saber, “mas afinal, o que é a psicologia?”
Princípio geral da Gestalt: O todo é diferente da soma de suas partes. |
“Cabe à psicologia apontar o caminho onde a ciência e a vida hão de se encontrar” (1975)
Mas de todas as teorias e leituras feitas, a que mais me agradou e intrigou, que me fez pensar, foram os textos de Felix Guattari “Cultura, um conceito reacionário?” e “ Subjetividade e História”, que nos coloca a questão do psicólogo como agente de produção de subjetividade não alienada e produtor de singularização (conforme citei no outro post dessa série), de onde li o conceito mais impactante para mim neste semestre:
“A subjetividade está em circulação nos conjuntos sociais de diferentes tamanhos: ela é essencialmente social, e assumida e vivida por indivíduos em suas existências particulares. O modo pelo qual os indivíduos vivem essa subjetividade oscila entre dois extremos: uma relação de alienação e opressão, na qual o indivíduo se submete à subjetividade tal como a recebe, ou uma relação de expressão e criação, na qual o indivíduo se reapropria dos componentes da subjetividade, produzindo um processo que eu chamaria de singularização.”
Espero que a minha formação em psicologia me
aproxime da segunda vivência da subjetividade!
E aí então eu consegui dormir mais tranquila,
já quase certa de que consegui descobrir o que é a psicologia: não é só filosofia,
não é só metafísica, não é só sensação, comportamento, consciência,
experiência, e produção de subjetividade, mas é um pouco de tudo isso, e acho
que muito mais. Mas o resto dessa história eu imagino que só vou conseguir
contar no segundo semestre, pois ainda há muitas teorias e sistemas
psicológicos a descobrir, desvendar e refletir! Nem chegamos ao Tio Sigmund
ainda... muita água vai rolar antes que eu consiga responder com clareza,
afinal, para que a psicologia! Living and
learning... Mas agora, deixa o meu cérebro tirar férias... Até Agosto!
Referências Bibliográficas para este post:
FERREIRA, Arthur Arruda Leal, JACÓ-VILELA, Ana
Maria e PORTUGAL, Francisco Teixeira. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, Rumos e
Percursos. Rio de Janeiro: Nau Ed., 2007.
FOUCAULT, Michel. Problematização do Sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise. 2o Edição. Volume 1. Coleçao Ditos e Escritos. Forense Universitária. 2009
GARCIA ROZA, Luiz Alfredo. Rádice. Revista de Psicologia, ano 1, nº 4, 1977.FOUCAULT, Michel. Problematização do Sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise. 2o Edição. Volume 1. Coleçao Ditos e Escritos. Forense Universitária. 2009
GUATTARI, Félix e ROLNIK, Sueli. Micropolítica
– CARTOGRAFIAS DO DESEJO. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.
Sai dessa vida! você tá de férias...
ResponderExcluir=)
podia ter postado isso antes da prova do Jhonny em.