sábado, 12 de maio de 2012

Descobrindo o Existencialismo - Kierkgaard

"A vida só se compreende mediante um retorno ao passado, mas só se vive para diante." - S. Kierkgaard


No início deste período decidi começar a fazer as minhas disciplinas optativas, ao invés de tentar adiantar matérias dos semestres seguintes. Pensei que elas me dariam a oportunidade de conhecer outras linhas de pensamento dentro da Psicologia. Como minha escolha sempre inclui alguma coisa de Filosofia, e influenciada pela iniciação à Gestalt que tivemos com o Prof. Jhonny no primeiro período, me inscrevi em uma disciplina de "Teorias e Técnicas Psicoterápicas".
Para minha surpresa, na ementa, além da Gestalt, estudaremos várias outras linhas de pensamento voltadas para a clínica: Psicodrama (Moreno) e Abordagem Centrada na Pessoa (Rogers), todas com raízes e influências da Fenomenologia (Husserl e Heidegger) e do Existencialismo. Falaremos em outro(s) post(s) sobre a delícia que está sendo fazer essa aula, e da minha "lua-de-mel" de encantamento pelas correntes fenomenológicas da Psicologia.
Para mim, Existencialismo sempre foi sinônimo de Sartre, de quem já gostava muito, até que aprendi que tudo começou com um certo mocinho dinamarquês chamado  Sören Kierkgaard.

Lendo seus escritos e um pouco do que foi escrito sobre ele, foi paixão à primeira vista! Não tenho a menor pretensão de analisar a obra desse filósofo, até porque um tanto hermética, apenas destaco algumas partes de seu pensamento que fizeram muito sentido pra mim, e me fizeram compreender melhor o que é essa inquietação da alma humana que o Existencialismo trata.

Transcrevo abaixo parte de introdução ao trabalho de Kiekgaard que encontrei na edição de "Os Pensadores", edição de 1979.

"Considerado por muitos historiadores como o primeiro representante da filosofia existencialista, Sören Aabye Kierkgaard nasceu a 5 de maio de 1813, em Compenhague, filho de Michael Pedersen Kierkgaard, então com 56 anos de idade, e de Anne Sreensdatter, de 44 anos.
"Minha vida não será, apesar de tudo, mais do que uma existência poética".
S. Kierkgaard
Essa afirmação revela, segundo György Luckács (1885-1970), seu heroísmo, sua honestidade e sua tragédia. Para Luckács, o heroísmo de Kierkgaard residiu em ter desejado criar formas a partir da vida: sua probidade, em ter seguido até o fim o caminho escolhido; e sua tragédia, em ter desejado viver aquilo que jamais poderia ser vivido



 Régis Jolivet afirma que o pensamento de Kierkgaard formou-se, "não tanto por assimilação de elementos estranhos, mas sobretudo através de uma luta de consciência, cada vez mais intensa e cada vez mais exigente, perante as condições, não já da existência em geral, mas do seu próprio existir."

Ainda segundo Jolivet, a filosofia de Kierkgaard é precisamente ele mesmo, e ele mesmo não fortuitamente e, de certo modo contrariado, mas ele mesmo voluntária e sistematicamente, a tal ponto que "o existir como indivíduo" e a consciência desse existir chegaram a ser, para ele, condição absoluta da filosofia e até sua única razão de ser."
Sartre fez uma boa síntese de todo o caráter da filosofia de Kierkgaard, uma filosofia da existência que foi construída em oposição a todos os sistemas racionalistas, especialmente ao sistema hegeliano:

"A vida subjetiva, na própria medida em que é vivida, não pode jamais ser objeto de um saber; ela escapa, em princípio, ao conhecimento... Essa interioridade que pretende afirmar-se contra toda filosofia, na sua estreiteza e profundidade infinita, essa subjetividade reencontrada para além da linguagem, como a aventura pessoal de cada um em face dos outros e de Deus, eis o que Kierkgaard chamou de existência." Sartre, J.P., Questão de Método.

Dentre as obras que Kierkgaard escreveu e publicou em sua curta vida (morreu aos 42 anos de idade), destacam-se Sobre o Conceito da Ironia (1841), Discursos Edificantes (1843/44), Ou, Ou - Um fragmento de Vida (1843), onde encontramos o delicioso "Diário de um Sedutor"(Estou ainda lendo este, em breve postarei alguns fragmentos que me encantaram e, certamente, seduziram!),  Temor e Tremor (1843), A Repetição (1843), O Conceito da Angústia (1844), Etapas no Caminho da Vida (1845) e O Desespero Humano (1849).

"Assim como talvez não haja, dizem os médicos, ninguém completamente são, também se poderia dizer, conhecendo bem o homem, que nem um só existe que esteja isento de desespero, que não tenha lá no fundo uma inquietação, uma perturbação, uma desarmonia, um receio de não se sabe o quê de desconhecido ou que ele nem ousa conhecer, receio de uma eventualidade exterior ou receio de si próprio; tal como os médicos dizem de uma doença, o homem traz em estado latente uma enfermidade da qual, num relâmpago, raramente um medo inexplicável lhe revela a presença interna."
Kierkgaard, O Desespero Humano.


Para conhecer mais a obra de Kierkgaard, acesse a página da Stanford Encyclopedia of Philosophy, aqui no original em inglês, ou este ensaio do UOL - Existencialimo Sites, em português.

Para ler citações e frases do autor, vai aqui  e aqui.


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