Já falamos em Gestalt em posts anteriores, mas estávamos nos referindo à Gestal Terapia, uma aplicação clínica de um método investigativo do sujeito, de cunho fenomenológico-existencialista, que vê a pessoa como um todo indivisível. A Gestalt do título aí de cima é, na verdade, a base filosófica da terapia, e é importante estabelecer esta diferença.
Na verdade, para o entendimento do que é Gestalt Terapia e Gestaltismo, é fundamental, necessário esclarecer que a Psicologia da Getalt apresenta-se como uma ruptura à Psicologia Experimental e com a Psicanálise, conforme entendidas no século XIX e início do século XX.
Márcia Moraes, em seu artigo "Considerações sobre o gestaltismo: entre ciência e filosofia", nos diz que
"ao afirmar a perspectiva do sujeito ingênuo como seu ponto de partida, o Gestaltismo traça um corte com relação à orientação clássica em psicologia. Em vez de partir de um universo físico preconcebido, a Psicologia da Gestalt parte das vivências do leigo."
Então, a Psicologia da Gestalt ou Gestaltismo, por oposição à orientação clássica em psicologia, caracteriza-se por promover um integração entre ciência e experiência.
Koffka |
O gestaltismo é originário de um
movimento de origem alemã, mas que acabou por se desenvolver também na América
do norte. A palavra GESTALT é de origem alemã, e não se consegue uma tradução
exata para o português, mas o significado mais próximo é de forma, estrutura,
todo. Os principais teóricos são da Gestalt são Max Wertheimer (1880-1943),
Kurt Kofka 91886-1941) Wolfgang Khöller 91887-1964) e Kurt Lewin (1890-1947).
Seu nascimento foi, na verdade,
uma tentativa de oposição a outras correntes psicológicas da época,
particularmente ao estruturalismo e ao behaviorismo, por julgarem os
gestaltistas que estas duas correntes subestimavam o indivíduo como ser
preponderante e atuante, e o colocavam num papel de “registrador” de estímulos
do ambiente.
Os gestaltistas também não
concordavam com a decomposição do todo em elementos simples que os
estruturalistas propunham aos fenômenos mentais, nem com as simples unidades de
estímulo-resposta (S-R) propostas pelos behavioristas. Entendiam que tanto uma
coisa quanto a outra destituía o sentido do fenômeno estudado.
Para a psicologia da Gestalt o todo é sempre
maior que a soma de suas partes, e a tentativa de estudar o todo pelas partes
sempre acabará num resultado frustrado que não representaria a verdade. Seria o
equivalente a uma melodia, que no todo tem um significado próprio, mas que se
decomposta em pequenos grupos de notas ou instrumentos, perderia a estrutura
final por onde a música poderia ser identificada.
A percepção humana foi o tópico de longe mais
estudado pelos gestaltistas, sempre de forma rigorosamente experimental. Inaugura-se o mundo percebido como um espaço legítimo de conhecimento.
A novidade espistemológica do gestaltismo reside nesta nova relação entre ciência e vida - e note-se que vida, neste caso, tem o mesmo sentido que vivência: "Esta combinação do laboratório da vida é, obviamente, um dos objetivos característicos da Teoria da Gestalt" (Gibson, 1971, p.2)
Este compromisso gestaltista é explicitado por Koffka (1975) ao afirmar que
"Cabe à psicologia apontar o caminho em que a ciência e a vida hão de se encontrar."
O próprio sentido da palavra Gestalt, intraduzível para o nosso idioma, expressa o caráter interno, direto, da organização do real e do percebido. Temos que gestalt pode ser entendido como forma, feitio, atibuto de coisas, mas também como uma unidade concreta per se. Então, para a Psicologia da Forma, as representações são, de saída, organizadas e significativas e se apresentam na perspectiva do leigo apenas deste modo.
As pesquisas sobre a percepção, principalmente a visão, levaram a uma doutrina filosófica. Esta doutrina traz em si a concepção de que não se pode conhecer o todo
através das partes, e sim as partes por meio do conjunto. Este tem suas
próprias leis, que coordenam seus elementos. Só assim o cérebro percebe,
interpreta e incorpora uma imagem ou uma idéia. Segundo o psicólogo
austríaco Christian von Ehrenfels, que em 1890 lançou as sementes das
futuras pesquisas
sobre a Psicologia da Gestalt, há duas características da forma – as
sensíveis, inerentes ao objeto, e a formais, que incluem as nossas
impressões sobre a matéria, que se impregna de nossos ideais e de
nossas visões de mundo. A união destas sensações gera a percepção. É
muito importante nesta teoria a idéia de que o conjunto é mais que a
soma dos seus elementos; assim deve-se imaginar que um terceiro fator é
gerado
Leis da Gestalt
Leis da Gestalt |
A Gestalt propõe uma série de leis que organizam a percepção, conhecidas como Leis da Boa Forma. Podem ser resumidas da seguinte forma:
- Semelhança: Objetos semelhantes tendem a permanecer juntos, seja nas cores, nas texturas ou nas impressões de massa destes elementos. Esta característica pode ser usada como fator de harmonia ou de desarmonia visual.
- Proximidade: Partes mais próximas umas das outras,em um certo local, inclinam-se a ser vistas como um grupo.
- Continuidade: Alinhamento harmônico das formas.
- Pregnância: Este é o postulado da simplicidade
natural da percepção, para melhor assimilação da imagem. É praticamente a
lei mais importante.
- Fechamento: A boa forma encerra-se sobre si mesma, compondo uma figura que tem limites bem marcados.
Tais leis e princípios da Gestalt são importantes para a Psicologia porque fundaram, a partir da percepção visual, uma nova relação entre o mundo percebido e a nossa subjetividade. As relações parte/todo e de figura/fundo estabelecidas pelas Leis da Boa Forma expressam uma heterogeneidade mínima, sem a qual não há cognição possível, e explicam a organização interna da figura, vista como uma parte articulada em um todo, que é diferente desta mesma parte isolada ou em outra totalidade. Aplicando-se este raciocínio em nossa relação subjetiva com o mundo, podemos compreender o ser humano como uma totalidade. A Gestalt vê o homem no físico, mental e
psíquico. Estas são esferas indivisíveis e interrelacionadas. Corpo e
psiquismo são inseparáveis. Afinal, o todo é sempre mais do que a soma de suas partes.
Bibliografia:
Ferreira, Arthur Arruda Leal (org.), A pluralidade do campo psicológico:principais abordagens e objetos de estudo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2010
História da Psicologia: rumos e percursos / org. Ana Maria Jacó Vilela, Arthur Arruda Leal Ferreira, Francisco Teixeira Portugal. Rio de Janeiro: Nau Ed. 2007
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